quarta-feira, dezembro 29, 2004

(Pensamento) Amores

Há amores que nunca morrem, porque são sempre bem tratados.

Há outros amores que morrem de morte natural.

Há ainda outros amores que morrem porque os matam.

sábado, dezembro 25, 2004

(Poema) Natal

Natal...

... é nunca esquecer de quem gostamos...
... respeitar quem nos quer bem...
... ajudar quem necessita...
... estar sempre presente para quem amamos...
... suportar as injustiças sem ser injusto...
... e sorrir apesar de triste.

... é passear de mão dada...
... saber ouvir quem necessita desabafar...
... abraçar quem mais precisa...
... afagar a cara do infeliz...
... desculpar as maldades sem ser mau...
... e perdoar apesar de magoado.

... é dirigir uma palavra linda ao feio...
... dar a mão a um cego...
... prestar atenção ao deficiente...
... acarinhar todas as crianças...
... aceitar os maus momentos...
... e agradecer apesar de chorar.

... é prezar a sabedoria dos mais velhos...
... dar atenção a todos os idosos...
... falar com os abandonados...
... acompanhar todos os solitários...
... aceitar as limitações dos outros...
... e ser feliz apesar das nossas imperfeições.

Natal... é sabermos viver para os outros.

Seremos capazes?

domingo, dezembro 19, 2004

(Dissertação) O Prazer de Comunicar

Foi sempre essencial ao ser humano comunicar com o seu semelhante. No entanto, em tempos longínquos, comunicar era uma arte limitada a alguns sons, gestos, expressões e desenhos.

Na sua essência, a arte de comunicar já detinha tudo o que necessitava para evoluir - usava a voz, os movimentos faciais e corporais e também a imaginação.

Com o aproximar de várias civilizações pela utilização de meios de locomoção que permitiram as cruzadas e outras viagens de exploração, poder comunicar tornou-se imprescindível ao ser humano.

Nos dias de hoje, a globalização trouxe o penúltimo desafio ao Homem - comunicar numa única língua, sendo que o último desafio para a Humanidade talvez seja o de um dia comunicar com outras civilizações, não pertencentes ao nosso mundo.

Mas comunicar, para além de aproximar civilizações, assume também um papel preponderante a outro nível - o pessoal, nomeadamente no estabelecimento de relações, no fortalecimento de laços afectivos e na expressão das nossas necessidades sentimentais.

E, para isso, não basta poder comunicar, é necessário saber fazê-lo, é necessário saber comunicar.

Apesar de todos nós vivermos rodeados por outras pessoas, não é raro encontrarmos pessoas que vivem isoladas em si mesmas, numa completa solidão. São pessoas incapazes de exprimir de forma correcta as suas vontades, sentimentos, alegrias, medos e frustações.

Podemos dividi-las em dois tipos:

As primeiras, apesar de comunicarem frequentemente, experimentam várias dificuldades na fidelização de relações e na criação de laços afectivos fortes.

Mesmo não tendo dificuldades de expressão oral, apresentam um outro tipo de dificuldades, normalmente de ordem afectiva e psicológica.

São pessoas inseguras, indecisas e com pouco amor próprio.

Provavelmente sofreram, durante algum período de suas vidas, repressões de vária ordem, perdendo aos poucos confiança em si mesmas.

Muitas delas são pessoas extremamente válidas, mas com barreiras internas que muitas vezes impedem o estabelecimento de uma relação afectiva normal.

Necessitam de se libertar, mas para isso terão de dar o primeiro passo - aprender a saber comunicar.

As segundas, têm dificuldades na expressão oral e, como tal, pressupõem que não têm o poder da comunicação.

Aclaremos então um ponto, o ponto principal:

Uma óptima expressão oral não é pré-requisito para saber comunicar - normalmente, saber comunicar tem relação directa com tempos, escolhas e atitudes.

Quer isto dizer que, para sabermos comunicar, temos de saber em que alturas devemos falar, em que alturas devemos fazer e em que alturas não devemos nem falar, nem fazer.

Implica também perceber que a palavra complementa apenas a acção, nunca a substituindo, pelo que o acto de fazer vale muito mais do que simplesmente falar (de que adianta dizermos várias vezes que amamos determinada pessoa quando as nossas acções são de desrespeito, afronta ou indiferença?).

E falar não implica a utilização de frases complexas, mas antes a utilização de diálogos claros, francos e directos.

Em suma, a arte de bem comunicar pressupõe que saibamos quando agir em vez de falar, quando falar em vez de agir (de forma transparente e verdadeira) e quando não falar e não agir.

Não há relação sentimental que resulte em pleno quando não se sabe comunicar. A Amizade, a Honestidade e a Cumplicidade necessitam do tipo de comunicação de que falei.

E estas três, juntas com o Amor e o Tempo são a base da Relação Feliz.

Não há como fugir, e comunicar pode dar um enorme prazer, vamos todos experimentar?

quarta-feira, dezembro 01, 2004

(Dissertação) Bons e Maus Pais - II

Se, no passado, a educação dos filhos estava entregue a tutores e o acompanhamento do seu dia-a-dia ao cuidado das amas (usual nas classes média-alta e alta), cabendo nessa altura ao Pai o papel de garante financeiro da Família e à Mãe o papel de gestora da casa, hoje assiste-se em muitos casos, à passagem de esse extremo para um outro, onde a criança assumiu na Família um papel central, de tal forma preponderante, que todas as decisões, das pequenas às grandes, passam pela expressão e execução à letra da sua vontade.

Talvez fruto de uma consciêncialização crescente da sociedade sobre temas que abordam a importância de um tempo de qualidade e de um maior acompanhamento das crianças, muitos Pais caíram no erro de dar um relevo exagerado às vontades dos filhos, submetendo as mais variadas decisões (decisões essas de sua única responsabilidade), ao seu escrutínio.

Quando aliado a uma nova moda de frisar que os melhores amigos dos Pais são os filhos, esse erro acaba por esvaziar o poder parental e, por consequência, enfraquecer quem deve ser o garante da educação, ou seja, os próprios Pais.

A preponderância que a opinião de uma criança assume em diversas escolhas familiares e o seu carácter muitas vezes decisivo, leva-me a concluir que há Pais que, ao contrário do que se passava no passado, delegaram nas crianças um poder que nunca lhes deveria assistir.

Nestas famílias, a criança obteve um papel central e decisor, muito à margem do que seria aconselhável, relegando para um segundo plano, as vontades dos seus progenitores e, o que em determinadas alturas, seria o mais acertado.

Intervêm nas compras de supermercado exigindo alimentação não aconselhável, na escolha de roupas de gosto duvidoso (quem já não reparou nas crianças que compraram uma determinada peça de roupa que, em qualquer outra situação não seria nunca escolha dos seus Pais?) e por vezes na escolha do destino de férias de todo o agregado familiar.

São Pais de autoridade frágil, que não distinguem atenção de subserviência e assim vão cedendo aos mais diversos caprichos dos seus filhos, sem saberem como lhes negar desejos e vontades.

E assim, assistimos hoje a uma completa confusão no que diz respeito à educação de um filho: confundem-se cedência com flexibilidade, imposição com autoridade, subserviência com atenção e opinião com decisão, entre algumas outras.

Todos os Pais devem ser flexíveis sem no entanto cederem a caprichos, devem exercer autoridade enquanto Pais sem a confundir com imposição, devem dar atenção aos desejos dos seus filhos ser serem subservientes com os mesmos e devem ouvir a sua opinião sem no entanto fazer dela necessariamente decisão.

É necessário saber educar com amor, atenção, compreensão e carinho, mas também com autoridade, rigor e disciplina. É desta mistura em quantidades certas que nasce uma educação salutar e eficiente.

Será que estamos todos capazes desta tarefa?

quinta-feira, novembro 11, 2004

(História) Milagres de Deus

Para mim, todos os dias são lindos... mas, talvez como toda a gente, tenha uns dias mais lindos do que outros... são aqueles em que acontecem os Milagres de Deus.

Para além dos fins de semana quinzenais, durante dois dias e duas noites por semana, tenho o previlégio de ficar com os meus filhos (o Miguel que vai fazer seis anos e a Carolina que irá fazer três) e de, nessa altura, ser ainda mais Pai do que nos outros dias.

Por cada um desses dias, são quatro horas até deitar, repletas de desafios e de imensas alegrias:

São os pequenos abraços quando os vou buscar à escola, abraços do tamanho de um Xi, apertados e seguros, tal como um grande mata saudades...

São os lanches no café, as companhias no supermercado, os passeios de trotinete ou os deveres para fazer até às sete...

São os banhos ao chegar a casa, com bolinhas de água e ar a brincar com três corpos que por momentos se transformam em apenas um, como que a provar que a semente está lá, presente em cada um...

São as toalhas, o chão molhado, os cremes e os cheiros, os pijamas, os roupões e os chinelos, os risos, os beijos, os abraços e as brincadeiras com os patinhos amarelos...

São os minutos a preparar o jantar com as suas ajudas; um deles põe a mesa, o outro mexe a sopa... ficando no fim o sentimento de se terem sentido úteis ao contribuirem para uma necessidade comum...

São as suas independências durante a refeição; servem-se do garfo e da faca, da colher... comem sózinhos, como se fossem já pequenos adultos. Riem, brincam e gabam a comida, como se tivesse sido confeccionada por um "chief" francês...

São os minutos de lazer após o jantar, a jogar computador ou a pintar, a ouvir uma história ou apenas a brincar...

São os tons suaves do antes de dormir, no quarto, os três tão juntos a ver um qualquer pequeno pedaço de filme animado, aguardando que o sono chegue... as festas, o tocar dos seus pézinhos, das suas mãos e o som mágico das suas palavrinhas de amor...

São os seus rostos já em descanço, em paz com o mundo e de bem com a vida, felizes, aguardando tranquilamente um novo dia...

São os lentos acordares pela manhã, com sorrisos e toques de bons dias e corridas para o pequeno almoço feito de leite, flocos e pão e as pequenas conversas com a Conceição...

São o preparar dos seus lanches, as saídas com as batas, uniformes e manuais, o passear das mochilas e os beijos de despedida com um até logo mais...

Quando ficam por fim entregues ao seu dia na escola, sobram as suas roupinhas para lavar e a enorme esperança de que no dia seguinte aconteça um novo Milagre de Deus.

E por cada um Lhe agradeço, do fundo do meu coração.

quinta-feira, novembro 04, 2004

(Poema) Viagem

Podemos um dia partir
com tempo para viajar anos,

percorrer país por país,
conhecer novos mundos, novos costumes,
novas línguas e novas vestes,

conhecer outros credos, novas fés,
novos paladares e outras iguarias.

Podemos ver arquitecturas diferentes,
vidas mais lentas, outros valores
e paisagens mais quentes.

Podemos até conhecer outras pessoas,
vaguear os seus pensamentos
e amar a sua intimidade.

E tudo isso é belo e divino.

Mas nada se compara
ao mundo de um Homem,
que ele sabe ser sempre seu.

quinta-feira, outubro 28, 2004

(Dissertação) Bons e Maus Pais - I

Se excluirmos desta abordagem todos os homens que são maus Pais por motivos óbvios (abandono físico dos filhos, maus tratos, etc.), existirão entre os Pais que restam analisar (os ditos Pais normais), os que podem, mesmo assim, serem como que catalogados de Maus Pais?

Estou certo de que, mesmo deixando de fora os casos a que chamo de desvio funcional do laço parental, existem vários Pais que falham de forma contundente a sua missão.

São estes os casos que vamos tentar analisar, começando por enumerar as necessidades de uma criança, aquelas que poderão influenciar de forma decisiva o seu crescimento.

Para além de alimento, de roupa e de educação escolar, todas as crianças necessitam de um acompanhamento equilibrado, num misto de atenção, cuidado e carinho.

Necessitam também (e já o referi no texto Bases da Relação Feliz), de um ambiente estável e bem alicerçado, porque é nesse ambiente que crescem, se desenvolvem, aprendem e tiram lições para a vida.

Provavelmente, este acompanhamento equilibrado será em parte responsável pela sua auto-estima, pela sua confiança e espírito de liderança, pela forma como desenvolvem relações com terceiros e pelo modo como encaram e reagem às adversidades.

Apesar de acreditar que parte destas características possam ser de alguma forma inatas em algumas crianças desde o seu nascimento e, portanto, fruto dos genes que transportam dentro de si, também acredito que todas elas podem ser trabalhadas e desenvolvidas nas crianças que não as possuem logo à partida.

E é precisamente aqui que reside a grande missão dos Pais – ajudar os filhos a superar dificuldades e inaptidões, não os substituindo nesses desafios, mas sim preparando-os para serem seres capazes e autónomos na forma de os enfrentar.

Neste aspecto, podemos tipificar os Pais em três grupos: os Pais que não sabem ensinar e preparar, os Pais que acham que ensinar e preparar é executar todo o tipo de desafios pelos filhos e, portanto, em sua substituição e os Pais que ensinam e preparam através da orientação, dando liberdade de acção de forma equilibrada à criança.

No primeiro grupo, estão aqueles Pais cujo tipo de vida egocentrista os torna de tal forma egoístas que não lhes permite investir tempo algum no acompanhamento dos filhos e, como tal, substituem a sua atenção recorrendo às baby siters, aos Avós, às televisões, aos filmes, às Play Station e aos Game Boy, de forma constante e recorrente.

Não que eu considere que os chamados jogos de computador sejam prejudiciais às crianças, antes pelo contrário. Estou certo que em termos gerais estimulam o seu desenvolvimento, atenção, destreza e os preparam de forma natural para o futuro que os espera - o das tecnologias de informação.

No entanto, a forma constante e recorrente com que alguns Pais substituem o acompanhamento dos filhos por terceiros e pelas tecnologias existentes é que deve ser entendida como preocupante, porque reveste uma forma de abandono e de isolamento.

Infelizmente, para estes Pais tudo parece servir para os manter calados, ocupados, distraídos e sossegados, permitindo assim que lhes sobre tempo para o que têm de mais importante - não os seus filhos, mas antes a sua própria vida.

E nenhum ser humano, quando se torna Pai, deixa de ter vida própria (continua a tê-la e deve mantê-la também). Mas a sua vida própria comporta agora uma outra responsabilidade - a educação e acompanhamento de um filho.

Até determinada idade, o amor dos filhos pelos seus Pais é incondicional e o tipo de Pai que somos não tem influência redutora nesse amor. No entanto, isto não significa que os filhos não sintam esta forma de abandono e que, dia após dia, não sofram com as constantes expectativas defraudadas por não poderem estar mais uma vez com o seu Pai (e estar é estar em comunhão, em partilha).

Mais tarde, quando a criança desenvolver o seu sentido crítico, julgará o Pai que tem e, deste julgamento, nenhum dos Pais está livre.

Acredito que estes Pais não tenham sequer ideia do que se pode passar dentro das cabeças das suas crianças; talvez pensem que são pequenos demais para se aperceberem de tudo o que os rodeia. Mas é precisamente entre os três e os seis anos de idade que as crianças estão mais receptivas a assimilar tudo o que se passa no exterior, à volta do seu mundo que, ao contrário de ser pequeno, cresce exponencialmente de dia para dia.

Estas crianças ficam por vezes com marcas de insegurança e várias carências de ordem afectiva que lhes prejudicará a construção de relações futuras.

Se no Pai que vive com a mãe dos filhos, estas falhas podem ser atenuadas (e apenas atenuadas) pela presença da progenitora, no caso do Pai divorciado, a proporção dos danos é bastante superior, porquanto o Pai negligencia de forma sistemática o único tempo que tem para acompanhar os filhos.

É assumido que a vida do Pai divorciado deve mudar radicalmente nos dias em que priva com os filhos. Não existe a Mãe dos filhos para o substituir em nenhuma tarefa, pelo que as suas prioridades devem estar focalizadas para o maior bem que possui - as suas crianças.

Não obstante esta Verdade, este tipo de Pais entrega a maior parte dessas horas aos Avós e às baby siters para não ter que alterar a sua forma egoísta de estar na vida.

Normalmente, os jantares com os amigos têm prioridade, os jogos de futebol também, as reuniões de trabalho idem e por aí fora, numa lógica totalmente inconsciente onde a importância da criança não tem o papel central que deveria ter.

No segundo grupo, estão aqueles Pais que dedicam tempo e atenção ao acompanhamento dos filhos, mas que o fazem, na maioria das vezes, de forma errada. Infelizmente, não basta dedicar tempo e acompanhar – é necessário saber como o fazer.

O Pai que investe tempo a ensinar um filho e lhe dedica a frase “caramba, nunca fazes isto direito” sempre que assiste a um erro, poderá estar a fazer ainda pior do que o Pai tipificado no primeiro grupo – é que por vezes mais vale um filho não ensinado e preparado (porque pode sempre ter uma grande capacidade de auto-didatismo e elevados graus de confiança adquiridos por outro meio), do que um filho com traumas e sequelas impeditivas, fruto da linguagem negativa dos Pais (não é assim tão raro vermos crianças e adolescentes assumirem para si próprios que nunca fazem nada direito ou que não vão conseguir superar os desafios com os quais se irão deparar).

Muitos Pais cedem à tentação de "fazer pelos filhos", substituindo-os nas mais diversas tarefas, impedindo-os assim de aprender errando mas, ao mesmo tempo, praticando e aperfeiçoando o resultado.

Os Pais devem orientar os filhos, deixando a experiência prática para eles. E essa experiência trará resultados por diversas fases: desde o resultado insuficiente até ao resultado satisfatório. Nesse entretanto, é necessário acompanhar a criança com diálogos positivos, tais como "está cada vez melhor", em vez de "estás sempre a fazer mal" ou "ainda não chega para ser bom".

Pode residir aqui a diferença entre uma criança construindo confiança e auto-estima e uma outra incapaz de o fazer e, portanto, insegura dos resultados que um dia pode produzir.

No terceiro grupo estão aqueles Pais que perceberam que dedicar tempo e atenção ao acompanhamento dos filhos tem como objectivos dar conhecimento e contribuir para o desenvolvimento, bem como cimentar atitudes e posturas perante situações.

Neste caso, é essencial saber trabalhar o conhecimento, a auto-estima e o grau de auto-confiança da criança ou adolescente, porque estas serão as suas ferramentas base para conquistar e vingar no futuro.

Enquanto que transmitir conhecimento a um filho pressupõe a partilha de um conjunto de informações executada de forma metódica, elevar a auto-estima e cimentar a confiança obriga a dar espaço à experiência individual. E esse espaço deve ser complementado com diálogos positivos, de encorajamento e satisfação.

Integrar um filho em algumas decisões pode também ser relevante para o adquirir de confiança. Perguntar "estou a pensar fazer isto de determinada maneira, o que achas?" pode produzir efeitos muito positivos a médio prazo, mesmo que o Pai tenha de guiar uma resposta não satisfatória do filho ao que pretendia fazer, corrigindo-a para "e se fizessemos antes assim?".

São as pequenas diferenças (de atitude, de linguagem e de margem) no acompanhamento e educação de uma criança que normalmente produzem resultados acima da média.

Pensemos um pouco em tudo isto e sejamos Verdadeiros Pais.

quarta-feira, outubro 13, 2004

(Pensamento) Mudança - II

A mudança é uma dádiva que o Homem soube impôr a si próprio.

domingo, outubro 10, 2004

(Infantil) O Espantalho

Nos campos da vila vivia um espantalho, cravado no alto de um pau, para afugentar todos os pássaros das colheitas que ali cresciam.

O espantalho tinha-se tornado num ser triste e solitário, pois nunca tinha a companhia de ninguém; nem a dos pássaros, incumbido estava de os afastar.

Cansado e muito só, virou-se para o céu e disse: “Ai Jesus, se eu pudesse pedir um desejo, um único que fosse, pedia para ser livre durante um dia!”.

Ao imaginar como seria não ter aquele pau a segurar o seu corpo de palha e poder correr pelos campos, ir até à vila, conviver e brincar, desatou num choro de anos que hoje já não conseguia conter.

De repente, notou que no céu se formava uma grande luz, tão forte que aquele início de manhã se parecia tornar numa linda tarde.

E a luz falou para ele: “Espantalho!... Espantalho!...”.

O espantalho estava agora cheio de medo.

“Quem fala para mim?” disse, olhando de forma fixa para aquela luz.

“Sou eu, Jesus. Ouvi a tua prece e decidi conceder-te esse teu desejo.”.

O espantalho tremia de medo mas também de alegria... “Meu Deus, Jesus! Porque olhaste Tu para mim?”, perguntou.

“Porque te senti demasiado só. E acho que és um espantalho de bem”, disse Jesus.

Ao dizer estas palavras, Jesus fez desaparecer o pau que sustentava o espantalho e ele pôde colocar os seus pés de palha no chão.

“Vai espantalho, diverte-te neste dia que tanto pediste aos céus. Espero-te no final da tarde.”.

“Obrigado! Obrigado!”, disse o espantalho, ajoelhado perante a luz, entre lágrimas e sorrisos.

E desatou a correr! Primeiro pelos campos que fizeram dele prisioneiro e depois em direcção à vila.

Quando lá chegou, todos os habitantes se espantaram com a sua presença e aproximaram-se para saber o que se tinha passado.

O espantalho contou a sua história e logo depois foi brincar com os meninos e meninas junto da fonte da praça.

E brincou, molhou-se, tomou banho com outros meninos e meninas, foi almoçar com os homens e mulheres, falou, falou, e também ouviu a tarde toda, as histórias que faziam a alma daquela vila.

Todos gostaram imenso do espantalho, e ofereceram-lhe um belo lanche. No final, quando os seus novos amiguinhos o convidaram para brincar novamente, o semblante do espantalho mudou e a tristeza tomou conta do seu rosto.

“Não posso, tenho de me ir embora. Prometi a Jesus que lá estaria no final da tarde e não me quero atrasar.”.

“Fica!”, disseram alguns dos homens da vila. “Se ele te soltou, às tantas é para que não tenhas de voltar mais! Fica connosco!”.

Mas o espantalho virou costas e, de lágrimas nos olhos, foi embora. Chegado ao campo e vendo o pau que durante tantos anos o segurou, disse: “Jesus! Estou aqui!”.

A luz apareceu novamente e perguntou: “Então, gostaste deste teu dia de liberdade?”.

“Sim, gostei muito...”, disse o espantalho.

“Então porque voltaste?”, perguntou Jesus.

“Porque o tinha combinado contigo.”, rematou o espantalho.

“Num dia, fiz tudo o que em toda a minha vida nunca tive hipóteses de fazer, e apesar de me custar muito voltar a ser um simples espantalho cravado num pau, quero agradecer-Te por teres atendido o meu pedido e me teres deixado provar a liberdade. O dia que me deste porque foi desejo meu já passou e assim, como ficou combinado, aqui estou.”.

“Sabes,”, disse Jesus, “fico contente que saibas o quanto importante é cumprir as nossas promessas e também sei o quanto custou teres de vir embora... toda a gente gostou de ti – eu disse-te que eras um espantalho de bem.”.

O espantalho ouvia as palavras de Jesus, tendo o pau na mão, aquele que o iria mais uma vez segurar pela vida fora.

E Jesus continuou: “Tenho uma outra surpresa para ti. Larga o pau, nunca mais vais necessitar dele porque a partir de hoje és um espantalho livre. A tua liberdade foi ganha por ti, porque soubeste cumprir o prometido.”.

E o espantalho, louco de alegria, beijou demoradamente a luz e saiu a correr, para não mais voltar.

E na vila fez-se festa, com música, comida e foguetes, e ninguém dormiu, até de manhã.

Conclusão:

Cumpre sempre a tua palavra; ela é parte do teu carácter. E mesmo que um dia te custe cumprir, lembra-te que o que acontece de bom no futuro pode estar a depender dela.

sexta-feira, outubro 08, 2004

(Pensamento) Ganhar as Guerras

Ganhem as guerras negociando a Paz.

quinta-feira, outubro 07, 2004

(História) Para Não Mais Voltar

Hoje acordei no meio de um imenso nevoeiro. Na rua, um estranho silêncio passeava por entre pessoas cinzentas, prédios sem côr e passeios tristes. Tinhas partido, para não mais voltar.

Deambulei, ainda meio confuso, pelas estradas da minha vida e obriguei-me a recordar tudo o que tinhas de lindo, de puro e de verdadeiro.

Pura ilusão. Estavas, já não estando, e partiste, para não mais voltar.

A minha casa estava agora diferente. Os troncos tinham secado, mesmo vivendo dentro de água. As revistas, aquelas que liamos em conjunto, estavam ainda fechadas. O sofá já não tinha mais a tua companhia.

Esperei por um sorriso que nunca apareceu, ou por um qualquer carinho que me acordasse a alma. Agora, as tuas palavras soavam-me longe, distorcidas e sem convicção. Tinhas partido, mesmo estando, para não mais voltar.

Durante todo o tempo em que foste vida na minha, acreditei que estando por ti e para ti, te agarraria para sempre a mim. Mas já me tinhas avisado... mesmo sem nada dizer... com os mesmos olhos meigos com que me amaste... que um dia partirias, para não mais voltar.

Hoje, recordei a nossa noite... aquela... recordei a tua alegria, a tua meigiçe, a tua coragem, a tua força e a tua determinação. Recordei o teu corpo perfeito, a tua voz deliciosa, o teu cheiro viciante... e as tuas mãos, as tuas lindas mãos... que partiram, para não mais voltar.

E assim foi.

Mudaste, talvez por te teres perdido ou finalmente encontrado, mas com isso mudaste também toda a vida que era, também ela, minha.

E ainda hoje penso: porque partiste tu?

quarta-feira, outubro 06, 2004

(Pensamento) Perseverança

Perseverança...
um pequeno detalhe,
uma diferença abismal.

(Infantil) Um Valioso Presente

O Rei de um belo castelo procurava marido para a sua única filha. Era um homem sábio, justo e amigo do seu povo.

Amava a sua filha e não a querendo obrigar a casar com escolha sua, apresentou-lhe três Príncipes de reinos vizinhos. Todos eles eram de sangue azul e todos tinham posses que herdaram das suas famílias.

Havia, no entanto, um problema: a Princesa estava apaixonada por um simples plebeu - não tinha sangue azul, não tinha posses e era de família humilde, mas era um homem íntegro e totalmente dedicado ao seu amor.

O Rei, ao saber do amor de sua filha, e não podendo preterir os pretendentes de sangue azul a bem do espírito de amizade com os povos vizinhos e da própria lei do seu reino, decidiu estabelecer uma prova para os três fidalgos (mostrando assim imparcialidade na escolha), incluíndo também o plebeu, tendo em conta a boa relação com o seu próprio povo.

E disse a todos:

"O que mais quero para a minha filha é alguém que se entregue de alma e coração, dedicando-se a ela e aos futuros filhos. Quem o fizer com a minha filha, falo-á também ao povo do seu novo reino."

"E porque não pretendo fazer distinção entre fidalgos e plebeus, mais ricos ou mais pobres, fica incluído na prova um plebeu em representação do meu povo - porque este reino existe porque existe povo."

"Assim, quem, em trinta dias, oferecer à minha filha a prenda que melhor represente o que mais quero para ela, ficará com a sua mão."

Desde o primeiro dia que o plebeu meteu mãos ao trabalho para acabar a sua prenda a tempo, mas tinha muitos problemas: tinha pouco dinheiro e seus pais dependiam do seu sustento, não tinha património para oferecer nem terras de cultivo, ricas em produtos. No entanto, trabalhava bem a madeira e então meteu mãos à obra.

Num único dia, o primeiro fidalgo mandou vir da India as mais belas joias, tecidos e adornos, coisa que nenhum outro reino tinha ainda visto.

Também num único dia, o segundo fidalgo escriturou em nome da filha do Rei, dez das suas mais belas propriedades.

E o terceiro fidalgo, de uma assentada, mandou colher os mais soberbos produtos das suas vastas quintas, espalhadas pelo mundo.

No final do prazo, todos se reuniram com o Rei no seu castelo e apresentaram as suas ofertas. Depois das valiosas ofertas dos fidalgos, o plebeu mostrou um placa de madeira, talhada com a sua figura, a figura da sua amada e as pequenas figuras dos filhos que sonhava ter.

O Rei decidiu dizendo:

"Dos trinta dias que dei, os três nobres fidalgos investiram apenas um para conquistar a minha filha. Pelo contrário, o plebeu investiu todos os dias no amor que sentia, ao criar com as suas próprias mãos o futuro que merece ter. A mão da minha filha a ele pertence."

A Princesa e o plebeu casaram e foram felizes para sempre.

Conclusão:

O valor de um presente está no tempo investido para o fazer ou encontrar, nunca no seu valor monetário.

terça-feira, outubro 05, 2004

(Pensamento) Felicidade

A felicidade está onde nós a construirmos.

segunda-feira, outubro 04, 2004

(Pensamento) Verdadeira Nobreza

A verdadeira nobreza de um ser humano observa-se no tempo que dedica na ajuda a outros, relegando para segundo plano os seus próprios problemas.

sábado, outubro 02, 2004

(Dissertação) Sucesso de uma Licenciatura

Os três pontos que posso considerar como vitais para o sucesso de uma licenciatura são a importância do professor para o aluno, a importância do esforço do aluno no atingir desse mesmo sucesso e a importância da licenciatura para uma pessoa.


Triângulo do Sucesso

Como se pode traduzir então o Sucesso de uma Licenciatura? Vamos abordar a questão pelas partes identificadas e no final chegaremos a uma conclusão.

O professor tem um papel central no nosso sucesso?

Estou certo que entre as pessoas que leêm este texto, encontramos alunos que se puderam classificar de bons, médios, fracos ou maus.

Pessoalmente, não acredito num mundo de carácter exclusivamente económico, onde as palavras de ordem são "procurar a rentabilidade máxima", porque ele implica de forma automática, a exclusão dos mais fracos e a dificuldade de inserção dos menos bons.

É aceitável, e até desejável, que no final de uma linha de produção se separe o produto defeituoso do que está em perfeitas condições de comercialização, mas neste caso, estamos a falar de produtos, não de pessoas e, como produtos que são, não têm forma de se auto-melhorar, ao contrário das pessoas, que podem sempre aprender, evoluir e melhorar.

Acredito numa política de carácter social, que misture os bons com os médios e com os fracos, porque estes dois últimos podem sempre melhorar e, para melhorar, necessitam por vezes de orientação, de ajuda e de apoio.

No entanto, não pactuo com a preguiça - é para mim condição vital que os bons, os médios e os mais fracos tenham em comum o esforço e a dedicação.

Então, coloca-se a questão: "Como melhorar o aluno médio e o aluno fraco?"

A resposta é "através do empenho do professor".

O professor tem uma missão extremamente complexa que não deve ser reduzida muitas vezes ao tradicional "ensinar para os bons". Todo o professor tem como missão "ensinar para todos, fazendo crescer os médios e recuperando os fracos".

E como é possível recuperar os fracos?

- Dando confiança e motivação
- Ensinando a usar método
- Obtendo o máximo de esforço

Eu era um aluno mediano quando cheguei à Universidade e acabei o curso considerado como um dos melhores. Inteligência? Tenho alguma, mas conheci lá pessoas verdadeiramente inteligentes. No entanto, para além das boas notas em todas as cadeiras do curso, eu tinha sempre as melhores notas nos trabalhos práticos porque o meu esforço era dez vezes superior ao deles.

Tive lá professores que me deram muita confiança e obtiveram de mim o máximo esforço.

Sei que isto é possível porque aconteceu comigo, mudando para sempre a minha vida e, nos anos seguintes a ter terminado o curso, mudei a vida de vários explicandos usando a mesma técnica.

Porque é tão importante o esforço no sucesso de uma licenciatura?

Porque nos dá agilidade de pensamento, porque nos dá um método, resistência e confiança.

Há pessoas que nascem talhadas para certos desportos - têm um jeito natural e uma compleição física própria - mas não raras vezes, o melhor é aquele que mais tempo dedica ao treino. O esforço faz a diferença.

a) Agilidade de pensamento e resistência

- Os músculos ficam ágeis e resistentes quando estimulados periodicamente por exercícios - o cérebro também.

b) Método

- Quando por vezes se executa determinada tarefa com carácter esporádico, nem sempre o caminho usado é o melhor; frequentemente leva mais tempo.

- Mas quando é executada frequentemente, temos tendência para nos interrogarmos sobre qual a forma mais eficaz de a realizar. E isso leva-nos a ter método, a procurá-lo.

c) Confiança

- A confiança é consequência da agilidade mental que se começa a obter e do método que nos permite realizar tarefas com êxito e de uma forma mais rápida.

Esforço não significa necessariamente dedicação total com prejuízo de outras actividades, mas sim um investimento periódico e regular na construção de algo.

Quem investe uma hora por dia a pintar as paredes da sua casa, provavelmente em duas semanas tem o trabalho pronto. Por outro lado, quem espera pela altura de ter dois dias inteiros livres para a pintar, provavelmente ainda não iniciou o trabalho quando o primeiro já o terminou.

Quem investe uma hora por dia a aprender algo, no final de um ano realizou mais de 45 dias de oito horas a trabalhar; no final de quatro anos, realizou 182 dias de trabalho ao que corresponde 2/3 de um ano profissional.

Podemos então assumir que quem investe um pouco todos os dias a mais do que os outros, vai obter uma grande diferença em termos de conhecimento no final de um ano.

O que nos dá então uma licenciatura?

- Mais método
- Mais capacidade de esforço
- Mais resistência
- Mais agilidade mental
- Mais confiança
- Bases para aquilo que vamos fazer durante a nossa vida
- Alarga horizontes ao abrir várias portas ao nosso conhecimento

No mercado actual das tecnologias de informação, a evolução das ferramentas é tão rápida que ainda hoje duvido que uma licenciatura nos dê mais do que as bases.

Por isso, alguns nomes sonantes do nosso mercado empresarial, defendem que os cursos deveriam ter uma duração de apenas três anos (por se encontrarem por vezes tão desfasados nas ferramentas usadas), para que o ciclo de apredizagem no mercado de trabalho se iniciasse mais cedo.

Mas este é um exemplo de uma política puramente económica.

O tempo de crescimento e aprendizagem numa Universidade, se bem que mais lento, é essêncial para criar uma base sólida de confiança e de resistência, sem sujeitar o indivíduo às pressões exteriores.

Por alguma razão a sociedade ocidental proibiu o trabalho infantil (tudo tem de ter o seu espaço para atingir a maturidade).

Não se iludam: cá fora praticamente não existe política social, mas quase sempre económica.

Quando a sociedade perceber que pode recuperar grande parte dos indivíduos, então começará a seleccionar as pessoas apenas pelas suas características pessoais, muitas vezes em detrimento das competências profissionais.

Aos 25 ou 27 anos, um profissional mediano pode vir a tornar-se num excelente profissional (conheço muitos casos), mas raramente uma pessoa arrogante, mesquinha e egoísta se recupera.

São os valores sociais que têm raízes bem mais fortes do que as aptidões profissionais.

Então, já sabemos o que é e do que depende o sucesso de qualquer licenciatura.

E por último, como conclusão:

O que é então o sucesso no mercado profissional?

Profissionalmente, a nossa vida pode ser comparada a uma longa maratona:

- Os atletas devem ter um tempo de preparação, a que correspondem os nossos anos de estudo (e vejam a importância que a preparação tem);

- Depois correm a maratona, e isto corresponde ao conjunto de anos que iremos passar a trabalhar;

- E por fim, cortam a meta e descansam, e isto deve corresponder à nossa reforma.

Digam-me: Se numa prova de 45 Kms, um atleta começa desde logo a sprintar e aos 2 Kms tiver já uma grande vantagem sobre os outros, devemos considerar que ele é bom e que provavelmente irá ganhar?

Será que ele vai aguentar a prova toda? Provavelmente não, talvez seja apenas um inconsciente.

Quero com isto dizer que ninguém tem sucesso aos 30 ou 40 anos; o sucesso da nossa vida profissional vai ser quantificado apenas quando a corrida terminar, ou seja, na reforma de um profissional.

Até lá, ainda podemos chegar em primeiro.

sexta-feira, outubro 01, 2004

(Poema) O Outono

Caem as folhas lentamente
Já queimadas por mais um forte verão,
E cai com elas juntamente
A esperança da nossa união.

Passaram de um verde forte cheio de vida
A um castanho meio sem côr,
Perderam a força de outrora
Tal qual o nosso amor.

O tempo ameno e preguiçoso
Faz com que a natureza adormeça,
Tudo vai morrendo calmamente
Como morreu minha beleza.

E o vento arrasta por fim
As provas de uma vida anterior,
Espalham-se por centenas de quilómetros
As sementes do teu amor.

Resta agora uma imensa solidão
Neste corpo fraco e cansado,
Iluminada apenas pelas lembranças
Da harmonia do nosso passado.

Espero apenas que chegue a morte
Para mais nada poder recordar,
E livrar minha alma da dôr
De tanto te ter feito chorar.

Nasci a teu lado
E a teu lado respirei,
Tive em ti a companheira
Que pouco tempo aproveitei.

Confundi meu mal-estar neste mundo
Com algo de errado na nossa relação,
E maltratei a única pessoa
Que por amor me dava a mão.

Curioso como sinto que ainda me amas
Mantendo-me fechado no teu coração,
Mas preferes viver de mal com o mundo
A assumir a tua única paixão.

Hibernado ficarei a aguardar
Que chegue outra primavera,
Pois as sementes espalhadas
Farão nascer uma nova era.

(Pensamento) Mudança - I

Uma mudança nunca é periódica ou radical; a isso chama-se imposição.

quinta-feira, setembro 30, 2004

(Pensamento) Alma de um Texto

Existem textos que só fazem todo o sentido depois de lidos dezenas de vezes. Que a persistência vos faça descobrir alguns ao longo da vida.

sexta-feira, setembro 24, 2004

(Dissertação) Bases da Relação Feliz

Não acredito em vidas de muitos amores, de muitos romances. Acredito antes nos amores únicos, profundos, nas dedicações a 100%, na grande cumplicidade entre duas partes que se sentem um só, na amizade onde a regra é sempre "estar pelo outro".

Acredito que a camada base no caminho para ser feliz, assenta na construção de uma sólida vida a dois. E talvez seja necessária muita clarividência para encontrar a fórmula para lá chegar.

Palavras como "amizade", "cumplicidade", "honestidade" e "amor", podem parecer fáceis de decifrar, perceber e, como tal, de colocar em prática, mas, infelizmente, não é tão simples como à primeira vista parece.

A Amizade pressupõe termos a capacidade de estar lá pelo outro, independentemente dos atrasos que isso nos possa trazer, ou até de outro tipo de perdas associadas. Pressupõe que somos capazes de dar o melhor de nós, não por nós ou para nós, mas por uma outra pessoa. Ser amigo, na maior parte dos casos, é perder para dar e ganhar por perder.

A Cumplicidade só existe para quem sente que um ser completo faz parte de dois seres juntos. Ser cúmplice é saber que os compartimentos dos nossos sentimentos, pensamentos e vivências quotidianas não são estanques ou fechados ao exterior - são antes depósitos num compartimento bem maior - aquele que serve uma vida plena a dois.

É necessário saber partilhar tudo - sensações, alegrias, medos, frustrações, sonhos, expectativas, desilusões, experiências, pensamentos, amarguras e tristezas.

E partilhá-los não é o mesmo que contá-los - é necessário saber falar e ouvir - e ouvir, não o que por vezes se quer, mas sim o que o outro sente e pensa.

É necessário ser humilde, muito humilde, para que haja capacidade de aceitar o que os outros pensam, porque, por vezes, pensam de forma diferente da nossa, ou sentem as coisas, provavelmente da forma que também as sentimos, mas que não queremos ouvir ou admitir.

É necessário perceber que uma visão diferente não é um ataque, mas apenas uma outra forma de olhar a mesma coisa. E, quem sabe, muitas vezes a verdade não se encontra precisamente no meio de duas opiniões?

Por fim, é também necessário perceber que as opiniões do nosso companheiro podem também conter sensações, medos, frustrações, desilusões e tristezas e que elas serão a base da sua opinião.

Ser cúmplice não tem como finalidade obter aprovações, mas sim manter proximidades e gerar consensos, ganhar confianças e fortalecer alianças.

A Honestidade pressupõe em primeiro lugar termos a capacidade de sermos verdadeiros connosco próprios e, para isso, é necessário que exista em nós a coragem e a clarividência suficientes para que não nos deixemos enganar a nós mesmos.

Depois, o acto de ser honesto com o nosso parceiro já entra no ponto da Cumplicidade, onde a capacidade de partilhar e de ser humilde é decisiva.

Amar, acaba por não ser mais do que, para além de gostar de outro de forma intensa e única (o que pressupõe viver para a felicidade de terceiros), ser também capaz de se ser amigo, honesto e cúmplice.

Viver para alguém e por alguém, quando esse alguém vive para nós e por nós, é a minha definição de amor. Não, não gera dependências, gera antes sintonias, sinergias, alegria, verdade e uma base enorme para se construir uma verdadeira Família.

Gera um lar seguro para os filhos, transmite a paz que eles necessitam para crescerem confiantes e dá-lhes o maior exemplo do que pode ser a vida com amor.

Estou convencido que uma casa assim vale mais do que mil palavras investidas na educação dos filhos.

Hoje, sei que muitas das pessoas que casam não têm ideia das bases que devem construir. E isso explica (e para mim é a maior causa), o insucesso de muitos casamentos, desde os que se mantêm pelos filhos, os que se mantêm por acomodação e os que em definitivo acabam.

Chamo à ausência das características que enumerei e descrevi de Egoísmo Adulto.

O Egoísta Adulto quer que o outro o faça feliz. E essa expectativa, podendo ter vários motivos, pode ser resumida num único e perfeitamente válido para a maior parte dos casos: porque acha que merece.

Mas o Amor, o verdadeiro Amor, assenta numa vontade completamente diferente e oposta: a de querer fazer outra pessoa feliz e ser feliz por isso mesmo. E quando o amor é verdadeiro existe reciprocidade nas vontades e resultado idêntico na satisfação final.

Falei da Amizade, da Cumplicidade, da Honestidade e do Amor, mas não falei ainda de algo comum a todos eles em termos de necessidade: o Tempo.

Para construir uma relação sólida com amizade, cumplicidade, verdade e amor é necessário tempo, tempo precioso e fundamental.

O quotidiano hoje em dia não é fácil para a maior parte dos casais: o trabalho exige tempo, a casa exige tempo, os filhos exigem tempo, a família exige tempo, os amigos exigem tempo e até nós mesmos exigimos tempo... e o tempo é apenas uma unidade estática, que não se desdobra, não se alarga, não se multiplica, a não ser com o passar para a próxima unidade estática: o próximo dia.

Conheço pessoas que distribuem bem o tempo pelo trabalho, casa, filhos, família e amigos... mas não estarão a estragar o que têm de mais precioso e de mais importante, ou seja, a sua própria relação? É que a nossa relação é a base do resto e sem uma relação forte, corremos o risco de que esse resto se desintegre, como acontece na sequência de um divórcio.

Que sentido faz um bom emprego, uma boa casa, uns lindos filhos, pais e irmãos satisfeitos e amigos para toda a vida, quando a nossa própria vida, aquela que é feita a dois, não existe ou pior ainda, está irremediavelmente morta?

Há quem diga que o que temos de mais importante são os filhos e eu estou de acordo, convicto (porque também o sinto) de que é verdade.

Mas porque são o que de mais importante temos, há quem não os largue, ou seja, quem não abdique de estar com eles todo o tempo que pode.

E aqui reside um importante problema que tento explicar com um exemplo:

Se eu tiver uma flôr rara da qual gosto muito, não posso ficar sempre ao seu lado porque senão ela acabará por morrer sem água. Assim, e de uma forma simples, terei de me ausentar para seu bem, sempre que lhe vou buscar alimento.

E se ela fôr muito importante para mim, provavelmente não quererei depender da companhia das águas para lhe garantir alimento e, então, talvez desvie um pequeno curso de rio para ser auto suficiente.

E se ela fôr única e vital para mim, então investirei muito tempo na construção de um canal sólido entre o rio e o local onde ela está... e assim por diante. E em todo o tempo que vou gastar, não estarei com ela, mas estou a garantir-lhe longevidade de forma segura.

Todas as crianças necessitam de atenção, de carinho, de alimento, de roupa e de educação. Mas necessitam de tudo isso dentro de um ambiente rico em amor, estável e bem alicerçado. É nesse ambiente que crescem, se desenvolvem, aprendem e tiram lições para a vida. Os Pais são o maior exemplo para os filhos, por toda a vida.

Então, e para bem deles, é necessário mesmo antes de estar com eles, de lhes criar o ambiente ideal onde irão passar mais de um quarto da sua vida. E isso custa Tempo.

E isto leva-nos a tudo o que já escrevi sobre a relação a dois. Antes de tudo o resto, ela é a base da vida adulta.

Claro que nenhuma criança morre se não tiver o ambiente ideal - qualquer adulto vive sem um bom emprego, sem uma casa própria, sem amor, sem família ou sem amigos...

Mas dói, não dói? E somos adultos.

sexta-feira, setembro 17, 2004

(História) O Príncipe e a Princesa

Ela, que não era Princesa, conheceu alguns Eles, que não eram Príncipes, porque Ela, a que não era Princesa, nunca acreditou com o coração merecer conhecer um.

Para Ela, que não era Princesa, bastava alguém que dela gostasse, porque isso já era algo de especial.

E Ela, que não era Princesa, nem era pessoa má.

A história reza assim:

Ela, que não era Princesa, tinha acabado de sofrer mais um desgosto. Entre parcas lágrimas e muito pensar, disse mais uma vez a si mesma:

“... não era possível que desse certo... não somos iguais... somos diferentes, temos formas distintas de ver certas coisas e tempos de reacção muito díspares.”

E continuou:

“É, desisto. Vou para a minha concha.”
(será que quando começou já tinha desistido?)

Entretanto, um outro Ele, que também não era Príncipe, reparou naquela linda concha, suficientemente transparente para que se percebesse que dentro dela vivia uma Ela.

Uma Ela, que não era Princesa, mas também não era pessoa má (só que o Ele de nada sabia...).

- “Toc, toc”, bateu o Ele na concha.
- “Quem é?”, responde a Ela.
- “Quero conhecer-te!”, diz o Ele, em êxtase.
- “Gostas de mim?”, pergunta Ela, “É que se gostares, só por isso eu já gosto de ti!”, continuou.

E, ainda não satisfeita, Ela, que não era Princesa, e também não era pessoa má, decidiu esclarecer melhor aquele Ele que lhe bateu na concha:

- “Olha, só porque gostas de mim, eu já gosto de ti, mas por isso mesmo, não me interessa muito saber do que necessitas.”

E o seu monólogo não ficou por aqui:

- “Agora, se perceberes bem o que eu necessito, e, se por gostares de mim, me fizeres todas as vontades, aí, e porque gostas de mim, eu também gostarei de ti.”
- “Percebes?”
- “Sabes, eu não tenho muito jeito para me colocar no teu lugar, porque isso me obriga a não pensar em mim. Sou mais do género de sentir, (isso faço-o muito bem), e por isso sei direito o que quero para mim.”
- “E, se mo deres, é porque gostas de mim, e se gostas de mim, eu também gostarei de ti.”
- “Assim, porque sou a tua Princesa, tu serás o meu Príncipe.”

O Ele foi embora. Foi embora para nunca mais voltar, e, para Ela, esta história começou novamente no seu início.

terça-feira, setembro 14, 2004

(História) Um Homem Rico - I

Lembro-me muitas vezes do nosso sítio...

...pequenino, humilde e muito acolhedor. Na sala tem sofás pequenos e macios onde os nossos corpos repousam e se entrelaçam... os nossos pés vagueiam pelos tecidos e o ar fresco da casa arrepia nossos corpos... mantemo-nos sempre juntinhos.

A mesa de jantar é redonda (pequena) e tem por cima aqueles candeeiros que se ajustam (descem e sobem) e que também não são nada bonitos... mas aquele é castiço... porque é nosso. Temos uma televisão mono pequena e uma aparelhagem ao lado (também é pequena).

O nosso quarto tem uma cama baixa e muito larga e imensos pufs e almofadas pelo chão. Normalmente usamos todo o quarto quando nos amamos... tem prateleiras baixas cheias de livros que devoramos nos intervalos de fazer amor. Não tem luz no tecto, mas antes 3 pontos de luz indirecta.

Por vezes a luz do dia entra por pequenas frinchas pintando o quarto de um azul, laranja e cinzento, fresco e convidativo ao ronronar. Também temos um edredon de penas, muito leve, caído no chão e que usamos para aquecer momentaneamente os nossos corpos quando arrefecem. Não mostramos nunca o nosso quarto a ninguém. É apenas nosso.

A casa de banho é pequena, e por isso normalmente quando lavas os dentes estou sentado na sanita a admirar-te... ali não fazemos amor com os pés no chão... as paredes estão próximas e tanto o lavatório como a banheira ajudam a certos equilíbrios...

Temos um espelho muito pequeno à frente do lavatório... vemos apenas a nossa cara. Tenho dificuldade em fazer lá a barba. O reposteiro que separa a banheira do resto já caiu várias vezes fruto das nossas loucuras e desta vez mandamos aparafusar o dito na parede... os azulejos ficaram esbutenados e por isso estás sempre a dizer para colocarmos umas chicletes naquelas ranhuras horríveis.

A cozinha tem um pequeno fogão eléctrico (daqueles que estão separados de tudo) e alguns armários de madeira (penso que são de contraplacado)... a pintura já não ajuda, mas juro que um dia os vou pintar da tua côr favorita. Para já não há dinheiro.

Temos outro quarto, um +1. Não tem luz directa e por isso usamo-lo para os nossos materiais de pintura. Nem tu nem eu pintamos bem, mas fazemos muitas asneiras com as tintas... já simulei que a minha tela eras tu... ficaste com um ar de arco-iris.

Também temos uma varanda pequenina com vista para as traseiras... vemos as hortas de alguns vizinhos... por incrível que pareça não temos aí prédios à nossa frente e por isso às vezes juntamo-nos lá para sonhar com o dia em que iremos fazer férias fora de casa.

Também sonhamos muitas vezes em um dia trocar de casa, mas por agora acho que nos sentimos bem nesta.

O nosso carro fica ao relento, mas a rua é sossegada e por isso não nos falta lugar. De manhã, enquanto acabas de te arranjar eu vou descendo para empurrar o carro de modo a que pegue... talvez no próximo mês possamos colocar-lhe uma bateria nova.

Lembras-te quando fomos para a porta do casino ver todas aquelas pessoas bonitas e bem vestidas entrar? Acho que não devem ter uma casita como a nossa, mas tenho dúvidas se será tão acolhedora...

A camisa que me ponteaste ficou muito bem e já a posso levar outra vez para o trabalho. É bom sair às 17h porque ficamos com muito tempo para nós...

Hoje à noite vamos cozinhar os dois... fui ao Continente e comprei uma garrafita de vinho... vamos comemorar o facto de nos amarmos.

Sei que o fogão não ajuda, mas podiamos tentar fazer uma tarte de maçã e, por ser dia especial, uma sopa fresquinha.

Hoje à noite vou-te fazer uma promessa: vou tentar trabalhar um pouco menos para ter tempo de te fazer ainda mais feliz.

No Natal espero conseguir oferecer-te um perfume. Sei que não necessitas, mas gostava que te sentisses uma Princesa quando saírmos novamente para ver o mar com as roupas novas que compramos no Continente.

Antes de nos irmos deitar vamos encher a banheira e deliciarmo-nos com um banho relaxante... como o espaço é tão pequeno, hoje prometo que te deixo ficar com as pernas por cima. Se um dia conseguirmos, vamos comprar uns sais de banho para fazer muita espuma.

Amanhã de manhã não me apetece ir trabalhar... gostava muito de ficar agarradinho a ti a manhã toda, não vá a vida um dia pregar-me uma partida e levar-te para longe de mim. Amanhã não vou mesmo trabalhar...

Vou aproveitar mais uma vez o facto de estarmos juntos e não adiar este matar de saudades. Sabes, não quero mesmo que a vida te leve... esta casa é bonita contigo, mas deixa de fazer sentido sem ti... é como as minhas camisas e todas as coisas usadas que tenho: são bonitas porque estão ponteadas e arranjadas por ti.

Porque se assim não fosse, sentia-me um pobre.

sexta-feira, setembro 10, 2004

(História) Um Homem Rico - II

Sabes meu querido, eu também adoro a nossa casa. Adoro o raio do candeeiro em cima da mesa onde jantamos e que de tantos puxões já está quase a cair do tecto.

Adoro o nosso quarto com a cama grande (é só um estrado onde pousa o colchão) e a desarrumação propositada das almofadas e pufs. Adoro a sua luz de fim de tarde, o tal luscofusco... claro que nunca o mostraremos a ninguém. É só nosso. É lá que nos trocamos.

Às vezes parece-me que transpareces alguma preocupação quando falas no dinheiro que não temos. Não sabes que não poderia ser mais feliz? Não precisamos de outra televisão e a aparelhagem ainda toca... bem, talvez precisássemos de outro fogão... sabes que eu prefiro o gás... passo a vida a queimar-me nos bicos eléctricos, e detesto apanhar choques.

Ah... hoje, quando fui à padaria, roubei do canteiro da rua uns pés de sardinheira... são aquelas plantinhas que dão flores muito bonitas... a nossa varandinha vai ficar mais simpática.

Nunca te disse, mas não gostei lá muito de ir ao casino ver pessoas... teria preferido virar-me para o outro lado e ter ficado contigo abraçadinha a ver o mar revolto. Mas foi divertido à mesma... lembras-te daquela loura de cabelo descolorado, cheia de base na cara, que quase caiu quando os tacões tão finos ficaram entalados na calçada... foi tão engraçado... teve que se descalçar e arrancar de lá o sapato... tentava a todo o custo manter a sua postura elegante, vertical ... com aquela verticalidade que dá jeito, desde que se lembrem que a gravidade pode fazer escorregar as medalhas que gostam tanto de ostentar. Quando lhes perguntam o que fazem na vida, respondem com orgulho: “sou engenheiro”...

Pobres, não somos nós, meu querido.

Não te preocupes meu amor. Vou conseguir arranjar emprego brevemente e nessa altura vai tudo ser melhor. Fica comigo amanhã. Fica. Também eu tenho medo de te perder. Deus terá concerteza os seus planos para nós, e sabe que eu sou forte, mas sabe também que prefiro morrer contigo. Não vou suportar os dias sabendo que não te terei mais.

Não quero estar à espera de morrer, agarrada à vida apenas porque sou este conjunto de células que teimam em cooperar para proteger a sua sobrevivência. Mas quero, quanto mais não seja, que o vulto do homem à cabeceira da cama nessa altura não me seja indiferente. Nem quero que seja apenas um espaço ocupado por hábito ou por falta de alternativa.

A única coisa que levarei comigo, é a lembrança de como fui amada e amei. Sou tão feliz que chego a ter medo que nesta felicidade incauta tenha falhado uma premonição.

Mas porque havemos de pensar nisto agora? O nosso amor é um milagre irrecusável. Para os dois. Agora estamos aqui e sou a mulher mais feliz do mundo. Tenho tudo. Apropriei-me da felicidade. Agora é tudo meu – as tuas camisas, as tuas meias, as tuas cuecas, o teu cabelo, os teus lábios, os teus sussurros, a tua voz mansa, o teu amor.

Adoro os nossos passeios (naquelas horas digestivas) pela Foz, ou mesmo pelo Norteshoping. Adoro passar a mão pelo teu cabelo em público. Devagar e contemplando esse cabelo espesso e revolto por entre os dedos.

Adoro a confiança com que me olhas quando eu ando pela casa agarrada a ti, e tua paciência quando insisto em pôr-me, descalça, em cima dos teus pés.

Sou tua. Entreguei-me sem medo de ter medo, abri-me. Rio-me feliz enquanto te observo a esvaziar-me de tudo o que tenho e do que nem imaginava que tinha. Tão curiosa como tu, pelo que vamos arrancando.

Espero que o meu amor te chegue. É tudo quanto possuo para te compensar do que não tiveste por mim.

Logo, vou pedir-te para tocares para mim enquanto faço o jantar. Quando chegares, vou ter a banheira à tua espera... cheiinha de espuma. Não, não são sais de banho... descobri que o shampô faz uma espuma do caraças.

Já sinto um aperto de fome por ti. Vou matar as horas que ainda faltam para te ter nos meus braços.

Não, pobres não somos nós, meu querido.

terça-feira, setembro 07, 2004

(História) O Menino e o Tesouro

Há muito, muito tempo, um menino encontrou um tesouro. No mundo onde vivia, aquele tesouro não tinha valor material nenhum; mas não deixava de ser um tesouro muito especial - era o simbolo da pureza, honestidade, humildade, caracter e frontalidade.

O menino, talvez por viver num mundo materialista, e talvez por ser apenas um menino, não sabia bem o valor moral do seu tesouro, mas sabia, isso sim, que o amava.

Dedicou-lhe então anos da sua vida, tentando colorir todos os dias do seu tesouro com a alegria e meiguiçe que possuía. O tesouro estava feliz e o menino também.

Só que o menino nunca entendeu o significado daquilo que sabia apenas ser um tesouro, e da responsabilidade que Deus lhe tinha conferido ao dar-lhe a oportunidade de ser ele a descobri-lo; e assim, nunca cresceu.

E ao não crescer, o menino, que até era puro, honesto e humilde, nunca soube o que significava ser perserverante. Aos poucos, e por ainda não ter crescido, o menino foi magoando a sua maior riqueza - o seu tesouro.

Mesmo assim, o seu tesouro, magoado e humilhado, nunca deixou o menino, fazendo-o entender aos poucos que apesar de tanto sofrimento o tesouro não ia embora - estava ali - e o menino aprendeu o que era ser perserverante; neste caso, o tesouro lutava pelo que amava e por tudo aquilo em que acreditava, e mesmo magoado não desviava a sua rota.

O menino aprendeu o significado da palavra perserverança, mas continuou a ser o que era; um simples menino. E como menino que era, entendeu que o tesouro valia muito mais do que ele, e como tal merecia muito mais, que o menino, por ser apenas menino, achava não poder dar.

O tesouro sempre esperou o menino, mas o menino, por achar que não estava à altura, teve medo e afastou-se.

O tesouro, triste, foi embora de vez.

Hoje, o menino já não tem tesouro - não é feliz, mas também já não é menino. Sabe agora que, como menino que foi, nunca mereceu tal oferta de Deus, mas hoje, como homem que é, recorda com tristeza aquele lindo e simples tesouro, que por um dia ter sido menino, perdeu, para nunca mais ter.

E todos os dias este homem reza a Deus pelo seu tesouro, não para o reaver, porque já o perdeu, mas para que da próxima vez Deus dê aquele seu antigo bem precioso a alguém que o possa merecer.

E todos os dias este homem chora porque já não é menino, não é feliz, e não tem tesouro.

(Pensamento) Mudar o Mundo

Queria ter forças para mudar o mundo; mudar as regras, mudar a forma de estar e de pensar, mudar o acreditar das pessoas, acabar com o triste conformismo, abolir o egoísmo, a mesquinhez e a malvadez.

Queria que todos fossem felizes pelo menos como eu por momentos sou; queria que todos chorassem quando observassem injustiças, sofrimentos e dôr de outros idênticos a si, e que daí para a frente não mais ficassem colados ao chão; queria que todos começassem a reagir ao mal que habita no mundo; queria acabar com a intolerância e ser intolerante com o mal; queria acabar com a fome e com as guerras; queria acabar com a pobreza de espírito e com o individualismo.

Queria ouvir as vozes deste miserável povo silencioso, sonâmbulo, irremediavelmente morto dentro de corpos aparentemente vivos que se vangloreiam das mais imbecis conquistas pessoais enquanto fecham os olhos às atrocidades que os rodeiam.

Queria acabar com os falsos amigos e com os falsos casamentos; queria que a partir desse dia todos tivessem coragem de assumir o que são e o que querem - sem medo e sem vergonha de uma sociedade hipócrita que eles mesmos deixaram construir.

Acabava com os parasitas, com os oportunistas e com os mentirosos; a partir desse dia todos iriam contribuir com o seu esforço e dedicação para tornar nobre uma causa comum: o bem estar do próximo.

Mas hoje, e apenas hoje, queria ter forças para tentar mudar outra vez a minha vida, aquela que por momentos me faz feliz como por momentos eu sou.

quarta-feira, setembro 01, 2004

Regras do Espaço

São aqui apresentadas algumas regras para um bom entendimento, utilização e funcionamento deste Espaço:

Identificação de Temas

Para uma rápida identificação da sua natureza, todos os textos estão tipificados no próprio cabeçalho nas seguintes categorias:

- Pensamentos
- Poemas
- Comentários
- Dissertações
- Histórias
- Infantil

Comentários

Cada texto pode receber um comentário por parte de quem o lê. Esse comentário não é colocado, por defeito, visível aos outros leitores, carecendo de aprovação. Pode também comentar todo o Blog através do Mural de Recados.

Pode ainda enviar sugestões sobre temas que gostaria de ver desenvolvidos neste Espaço ou sobre assuntos para os quais gostaria de obter uma opinião. Para isso, envie um mail para inquestionavel@hotmail.com e coloque no campo assunto, a palavra "Sugestão" ou "Opinião", consoante a sua intenção e desenvolva o tema.

Se o comentário requerer uma resposta, e se não a pretender receber como reply ao mail enviado, deve indicar um contacto alternativo para o qual a mesma deva ser enviada.

Contribuições

Os comentários, sejam eles de crítica, de consonância ou de complemento de ideias, são considerados por mim como muito importantes - por favor, deixe o seu.

Prefácio

(In)Questionável, apesar do seu significado inerente, pelo menos dúbio ou inseguro, representa para o autor um conjunto de valores, ideais e comportamentos, que ele assume para si próprio como inteiramente verdadeiros e nos quais ele ideologicamente acredita.

A razão porque o nome contém a palavra Questionável, deve significar tão somente, o dever de permitir aos seus leitores questionar o seu conteúdo, não lhes impondo as verdades em que acredita, como verdades universais, aceites por todos, mas antes como ponto de partida para reflexões individuais e ajustes por parte de quem pode contribuir para que estas possam ser as ‘suas’ verdades.

As aparentemente pequenas ou grandes contradições que o leitor possa, através da sua natural assimilação, detectar ao longo de todos os textos, deverão ser encaradas como um direito que assistiu ao autor, de também ele próprio questionar ou auto-críticar os seus valores perante vários pontos de vista, sendo esta uma importante (única) forma de evolução facultada ao ser humano.

O autor não tem, com esta publicação, a pretensão de ensinar, até pela falta de formação e conhecimento científico em áreas tão vastas e complexas como são, por exemplo, a sociologia e a psicologia, mas sim, de provocar o despertar de alguns leitores para a reflexão sobre valores e ideais que, na maior parte dos casos, se poderão resumir a senso comum, ou simples bom-senso.

Finalmente, reside aqui ainda, a esperança de poder ajudar alguns leitores a acreditar que o mundo muda, de cada vez que um dos seus habitantes evoluí positivamente, seja qual for a direcção escolhida. Cabe a cada um de nós mudar a tendência cada vez maior de apatia, conformismo e pessimismo com que o Homem de hoje encara a vida neste mundo maravilhoso.