quinta-feira, setembro 30, 2004

(Pensamento) Alma de um Texto

Existem textos que só fazem todo o sentido depois de lidos dezenas de vezes. Que a persistência vos faça descobrir alguns ao longo da vida.

sexta-feira, setembro 24, 2004

(Dissertação) Bases da Relação Feliz

Não acredito em vidas de muitos amores, de muitos romances. Acredito antes nos amores únicos, profundos, nas dedicações a 100%, na grande cumplicidade entre duas partes que se sentem um só, na amizade onde a regra é sempre "estar pelo outro".

Acredito que a camada base no caminho para ser feliz, assenta na construção de uma sólida vida a dois. E talvez seja necessária muita clarividência para encontrar a fórmula para lá chegar.

Palavras como "amizade", "cumplicidade", "honestidade" e "amor", podem parecer fáceis de decifrar, perceber e, como tal, de colocar em prática, mas, infelizmente, não é tão simples como à primeira vista parece.

A Amizade pressupõe termos a capacidade de estar lá pelo outro, independentemente dos atrasos que isso nos possa trazer, ou até de outro tipo de perdas associadas. Pressupõe que somos capazes de dar o melhor de nós, não por nós ou para nós, mas por uma outra pessoa. Ser amigo, na maior parte dos casos, é perder para dar e ganhar por perder.

A Cumplicidade só existe para quem sente que um ser completo faz parte de dois seres juntos. Ser cúmplice é saber que os compartimentos dos nossos sentimentos, pensamentos e vivências quotidianas não são estanques ou fechados ao exterior - são antes depósitos num compartimento bem maior - aquele que serve uma vida plena a dois.

É necessário saber partilhar tudo - sensações, alegrias, medos, frustrações, sonhos, expectativas, desilusões, experiências, pensamentos, amarguras e tristezas.

E partilhá-los não é o mesmo que contá-los - é necessário saber falar e ouvir - e ouvir, não o que por vezes se quer, mas sim o que o outro sente e pensa.

É necessário ser humilde, muito humilde, para que haja capacidade de aceitar o que os outros pensam, porque, por vezes, pensam de forma diferente da nossa, ou sentem as coisas, provavelmente da forma que também as sentimos, mas que não queremos ouvir ou admitir.

É necessário perceber que uma visão diferente não é um ataque, mas apenas uma outra forma de olhar a mesma coisa. E, quem sabe, muitas vezes a verdade não se encontra precisamente no meio de duas opiniões?

Por fim, é também necessário perceber que as opiniões do nosso companheiro podem também conter sensações, medos, frustrações, desilusões e tristezas e que elas serão a base da sua opinião.

Ser cúmplice não tem como finalidade obter aprovações, mas sim manter proximidades e gerar consensos, ganhar confianças e fortalecer alianças.

A Honestidade pressupõe em primeiro lugar termos a capacidade de sermos verdadeiros connosco próprios e, para isso, é necessário que exista em nós a coragem e a clarividência suficientes para que não nos deixemos enganar a nós mesmos.

Depois, o acto de ser honesto com o nosso parceiro já entra no ponto da Cumplicidade, onde a capacidade de partilhar e de ser humilde é decisiva.

Amar, acaba por não ser mais do que, para além de gostar de outro de forma intensa e única (o que pressupõe viver para a felicidade de terceiros), ser também capaz de se ser amigo, honesto e cúmplice.

Viver para alguém e por alguém, quando esse alguém vive para nós e por nós, é a minha definição de amor. Não, não gera dependências, gera antes sintonias, sinergias, alegria, verdade e uma base enorme para se construir uma verdadeira Família.

Gera um lar seguro para os filhos, transmite a paz que eles necessitam para crescerem confiantes e dá-lhes o maior exemplo do que pode ser a vida com amor.

Estou convencido que uma casa assim vale mais do que mil palavras investidas na educação dos filhos.

Hoje, sei que muitas das pessoas que casam não têm ideia das bases que devem construir. E isso explica (e para mim é a maior causa), o insucesso de muitos casamentos, desde os que se mantêm pelos filhos, os que se mantêm por acomodação e os que em definitivo acabam.

Chamo à ausência das características que enumerei e descrevi de Egoísmo Adulto.

O Egoísta Adulto quer que o outro o faça feliz. E essa expectativa, podendo ter vários motivos, pode ser resumida num único e perfeitamente válido para a maior parte dos casos: porque acha que merece.

Mas o Amor, o verdadeiro Amor, assenta numa vontade completamente diferente e oposta: a de querer fazer outra pessoa feliz e ser feliz por isso mesmo. E quando o amor é verdadeiro existe reciprocidade nas vontades e resultado idêntico na satisfação final.

Falei da Amizade, da Cumplicidade, da Honestidade e do Amor, mas não falei ainda de algo comum a todos eles em termos de necessidade: o Tempo.

Para construir uma relação sólida com amizade, cumplicidade, verdade e amor é necessário tempo, tempo precioso e fundamental.

O quotidiano hoje em dia não é fácil para a maior parte dos casais: o trabalho exige tempo, a casa exige tempo, os filhos exigem tempo, a família exige tempo, os amigos exigem tempo e até nós mesmos exigimos tempo... e o tempo é apenas uma unidade estática, que não se desdobra, não se alarga, não se multiplica, a não ser com o passar para a próxima unidade estática: o próximo dia.

Conheço pessoas que distribuem bem o tempo pelo trabalho, casa, filhos, família e amigos... mas não estarão a estragar o que têm de mais precioso e de mais importante, ou seja, a sua própria relação? É que a nossa relação é a base do resto e sem uma relação forte, corremos o risco de que esse resto se desintegre, como acontece na sequência de um divórcio.

Que sentido faz um bom emprego, uma boa casa, uns lindos filhos, pais e irmãos satisfeitos e amigos para toda a vida, quando a nossa própria vida, aquela que é feita a dois, não existe ou pior ainda, está irremediavelmente morta?

Há quem diga que o que temos de mais importante são os filhos e eu estou de acordo, convicto (porque também o sinto) de que é verdade.

Mas porque são o que de mais importante temos, há quem não os largue, ou seja, quem não abdique de estar com eles todo o tempo que pode.

E aqui reside um importante problema que tento explicar com um exemplo:

Se eu tiver uma flôr rara da qual gosto muito, não posso ficar sempre ao seu lado porque senão ela acabará por morrer sem água. Assim, e de uma forma simples, terei de me ausentar para seu bem, sempre que lhe vou buscar alimento.

E se ela fôr muito importante para mim, provavelmente não quererei depender da companhia das águas para lhe garantir alimento e, então, talvez desvie um pequeno curso de rio para ser auto suficiente.

E se ela fôr única e vital para mim, então investirei muito tempo na construção de um canal sólido entre o rio e o local onde ela está... e assim por diante. E em todo o tempo que vou gastar, não estarei com ela, mas estou a garantir-lhe longevidade de forma segura.

Todas as crianças necessitam de atenção, de carinho, de alimento, de roupa e de educação. Mas necessitam de tudo isso dentro de um ambiente rico em amor, estável e bem alicerçado. É nesse ambiente que crescem, se desenvolvem, aprendem e tiram lições para a vida. Os Pais são o maior exemplo para os filhos, por toda a vida.

Então, e para bem deles, é necessário mesmo antes de estar com eles, de lhes criar o ambiente ideal onde irão passar mais de um quarto da sua vida. E isso custa Tempo.

E isto leva-nos a tudo o que já escrevi sobre a relação a dois. Antes de tudo o resto, ela é a base da vida adulta.

Claro que nenhuma criança morre se não tiver o ambiente ideal - qualquer adulto vive sem um bom emprego, sem uma casa própria, sem amor, sem família ou sem amigos...

Mas dói, não dói? E somos adultos.

sexta-feira, setembro 17, 2004

(História) O Príncipe e a Princesa

Ela, que não era Princesa, conheceu alguns Eles, que não eram Príncipes, porque Ela, a que não era Princesa, nunca acreditou com o coração merecer conhecer um.

Para Ela, que não era Princesa, bastava alguém que dela gostasse, porque isso já era algo de especial.

E Ela, que não era Princesa, nem era pessoa má.

A história reza assim:

Ela, que não era Princesa, tinha acabado de sofrer mais um desgosto. Entre parcas lágrimas e muito pensar, disse mais uma vez a si mesma:

“... não era possível que desse certo... não somos iguais... somos diferentes, temos formas distintas de ver certas coisas e tempos de reacção muito díspares.”

E continuou:

“É, desisto. Vou para a minha concha.”
(será que quando começou já tinha desistido?)

Entretanto, um outro Ele, que também não era Príncipe, reparou naquela linda concha, suficientemente transparente para que se percebesse que dentro dela vivia uma Ela.

Uma Ela, que não era Princesa, mas também não era pessoa má (só que o Ele de nada sabia...).

- “Toc, toc”, bateu o Ele na concha.
- “Quem é?”, responde a Ela.
- “Quero conhecer-te!”, diz o Ele, em êxtase.
- “Gostas de mim?”, pergunta Ela, “É que se gostares, só por isso eu já gosto de ti!”, continuou.

E, ainda não satisfeita, Ela, que não era Princesa, e também não era pessoa má, decidiu esclarecer melhor aquele Ele que lhe bateu na concha:

- “Olha, só porque gostas de mim, eu já gosto de ti, mas por isso mesmo, não me interessa muito saber do que necessitas.”

E o seu monólogo não ficou por aqui:

- “Agora, se perceberes bem o que eu necessito, e, se por gostares de mim, me fizeres todas as vontades, aí, e porque gostas de mim, eu também gostarei de ti.”
- “Percebes?”
- “Sabes, eu não tenho muito jeito para me colocar no teu lugar, porque isso me obriga a não pensar em mim. Sou mais do género de sentir, (isso faço-o muito bem), e por isso sei direito o que quero para mim.”
- “E, se mo deres, é porque gostas de mim, e se gostas de mim, eu também gostarei de ti.”
- “Assim, porque sou a tua Princesa, tu serás o meu Príncipe.”

O Ele foi embora. Foi embora para nunca mais voltar, e, para Ela, esta história começou novamente no seu início.

terça-feira, setembro 14, 2004

(História) Um Homem Rico - I

Lembro-me muitas vezes do nosso sítio...

...pequenino, humilde e muito acolhedor. Na sala tem sofás pequenos e macios onde os nossos corpos repousam e se entrelaçam... os nossos pés vagueiam pelos tecidos e o ar fresco da casa arrepia nossos corpos... mantemo-nos sempre juntinhos.

A mesa de jantar é redonda (pequena) e tem por cima aqueles candeeiros que se ajustam (descem e sobem) e que também não são nada bonitos... mas aquele é castiço... porque é nosso. Temos uma televisão mono pequena e uma aparelhagem ao lado (também é pequena).

O nosso quarto tem uma cama baixa e muito larga e imensos pufs e almofadas pelo chão. Normalmente usamos todo o quarto quando nos amamos... tem prateleiras baixas cheias de livros que devoramos nos intervalos de fazer amor. Não tem luz no tecto, mas antes 3 pontos de luz indirecta.

Por vezes a luz do dia entra por pequenas frinchas pintando o quarto de um azul, laranja e cinzento, fresco e convidativo ao ronronar. Também temos um edredon de penas, muito leve, caído no chão e que usamos para aquecer momentaneamente os nossos corpos quando arrefecem. Não mostramos nunca o nosso quarto a ninguém. É apenas nosso.

A casa de banho é pequena, e por isso normalmente quando lavas os dentes estou sentado na sanita a admirar-te... ali não fazemos amor com os pés no chão... as paredes estão próximas e tanto o lavatório como a banheira ajudam a certos equilíbrios...

Temos um espelho muito pequeno à frente do lavatório... vemos apenas a nossa cara. Tenho dificuldade em fazer lá a barba. O reposteiro que separa a banheira do resto já caiu várias vezes fruto das nossas loucuras e desta vez mandamos aparafusar o dito na parede... os azulejos ficaram esbutenados e por isso estás sempre a dizer para colocarmos umas chicletes naquelas ranhuras horríveis.

A cozinha tem um pequeno fogão eléctrico (daqueles que estão separados de tudo) e alguns armários de madeira (penso que são de contraplacado)... a pintura já não ajuda, mas juro que um dia os vou pintar da tua côr favorita. Para já não há dinheiro.

Temos outro quarto, um +1. Não tem luz directa e por isso usamo-lo para os nossos materiais de pintura. Nem tu nem eu pintamos bem, mas fazemos muitas asneiras com as tintas... já simulei que a minha tela eras tu... ficaste com um ar de arco-iris.

Também temos uma varanda pequenina com vista para as traseiras... vemos as hortas de alguns vizinhos... por incrível que pareça não temos aí prédios à nossa frente e por isso às vezes juntamo-nos lá para sonhar com o dia em que iremos fazer férias fora de casa.

Também sonhamos muitas vezes em um dia trocar de casa, mas por agora acho que nos sentimos bem nesta.

O nosso carro fica ao relento, mas a rua é sossegada e por isso não nos falta lugar. De manhã, enquanto acabas de te arranjar eu vou descendo para empurrar o carro de modo a que pegue... talvez no próximo mês possamos colocar-lhe uma bateria nova.

Lembras-te quando fomos para a porta do casino ver todas aquelas pessoas bonitas e bem vestidas entrar? Acho que não devem ter uma casita como a nossa, mas tenho dúvidas se será tão acolhedora...

A camisa que me ponteaste ficou muito bem e já a posso levar outra vez para o trabalho. É bom sair às 17h porque ficamos com muito tempo para nós...

Hoje à noite vamos cozinhar os dois... fui ao Continente e comprei uma garrafita de vinho... vamos comemorar o facto de nos amarmos.

Sei que o fogão não ajuda, mas podiamos tentar fazer uma tarte de maçã e, por ser dia especial, uma sopa fresquinha.

Hoje à noite vou-te fazer uma promessa: vou tentar trabalhar um pouco menos para ter tempo de te fazer ainda mais feliz.

No Natal espero conseguir oferecer-te um perfume. Sei que não necessitas, mas gostava que te sentisses uma Princesa quando saírmos novamente para ver o mar com as roupas novas que compramos no Continente.

Antes de nos irmos deitar vamos encher a banheira e deliciarmo-nos com um banho relaxante... como o espaço é tão pequeno, hoje prometo que te deixo ficar com as pernas por cima. Se um dia conseguirmos, vamos comprar uns sais de banho para fazer muita espuma.

Amanhã de manhã não me apetece ir trabalhar... gostava muito de ficar agarradinho a ti a manhã toda, não vá a vida um dia pregar-me uma partida e levar-te para longe de mim. Amanhã não vou mesmo trabalhar...

Vou aproveitar mais uma vez o facto de estarmos juntos e não adiar este matar de saudades. Sabes, não quero mesmo que a vida te leve... esta casa é bonita contigo, mas deixa de fazer sentido sem ti... é como as minhas camisas e todas as coisas usadas que tenho: são bonitas porque estão ponteadas e arranjadas por ti.

Porque se assim não fosse, sentia-me um pobre.

sexta-feira, setembro 10, 2004

(História) Um Homem Rico - II

Sabes meu querido, eu também adoro a nossa casa. Adoro o raio do candeeiro em cima da mesa onde jantamos e que de tantos puxões já está quase a cair do tecto.

Adoro o nosso quarto com a cama grande (é só um estrado onde pousa o colchão) e a desarrumação propositada das almofadas e pufs. Adoro a sua luz de fim de tarde, o tal luscofusco... claro que nunca o mostraremos a ninguém. É só nosso. É lá que nos trocamos.

Às vezes parece-me que transpareces alguma preocupação quando falas no dinheiro que não temos. Não sabes que não poderia ser mais feliz? Não precisamos de outra televisão e a aparelhagem ainda toca... bem, talvez precisássemos de outro fogão... sabes que eu prefiro o gás... passo a vida a queimar-me nos bicos eléctricos, e detesto apanhar choques.

Ah... hoje, quando fui à padaria, roubei do canteiro da rua uns pés de sardinheira... são aquelas plantinhas que dão flores muito bonitas... a nossa varandinha vai ficar mais simpática.

Nunca te disse, mas não gostei lá muito de ir ao casino ver pessoas... teria preferido virar-me para o outro lado e ter ficado contigo abraçadinha a ver o mar revolto. Mas foi divertido à mesma... lembras-te daquela loura de cabelo descolorado, cheia de base na cara, que quase caiu quando os tacões tão finos ficaram entalados na calçada... foi tão engraçado... teve que se descalçar e arrancar de lá o sapato... tentava a todo o custo manter a sua postura elegante, vertical ... com aquela verticalidade que dá jeito, desde que se lembrem que a gravidade pode fazer escorregar as medalhas que gostam tanto de ostentar. Quando lhes perguntam o que fazem na vida, respondem com orgulho: “sou engenheiro”...

Pobres, não somos nós, meu querido.

Não te preocupes meu amor. Vou conseguir arranjar emprego brevemente e nessa altura vai tudo ser melhor. Fica comigo amanhã. Fica. Também eu tenho medo de te perder. Deus terá concerteza os seus planos para nós, e sabe que eu sou forte, mas sabe também que prefiro morrer contigo. Não vou suportar os dias sabendo que não te terei mais.

Não quero estar à espera de morrer, agarrada à vida apenas porque sou este conjunto de células que teimam em cooperar para proteger a sua sobrevivência. Mas quero, quanto mais não seja, que o vulto do homem à cabeceira da cama nessa altura não me seja indiferente. Nem quero que seja apenas um espaço ocupado por hábito ou por falta de alternativa.

A única coisa que levarei comigo, é a lembrança de como fui amada e amei. Sou tão feliz que chego a ter medo que nesta felicidade incauta tenha falhado uma premonição.

Mas porque havemos de pensar nisto agora? O nosso amor é um milagre irrecusável. Para os dois. Agora estamos aqui e sou a mulher mais feliz do mundo. Tenho tudo. Apropriei-me da felicidade. Agora é tudo meu – as tuas camisas, as tuas meias, as tuas cuecas, o teu cabelo, os teus lábios, os teus sussurros, a tua voz mansa, o teu amor.

Adoro os nossos passeios (naquelas horas digestivas) pela Foz, ou mesmo pelo Norteshoping. Adoro passar a mão pelo teu cabelo em público. Devagar e contemplando esse cabelo espesso e revolto por entre os dedos.

Adoro a confiança com que me olhas quando eu ando pela casa agarrada a ti, e tua paciência quando insisto em pôr-me, descalça, em cima dos teus pés.

Sou tua. Entreguei-me sem medo de ter medo, abri-me. Rio-me feliz enquanto te observo a esvaziar-me de tudo o que tenho e do que nem imaginava que tinha. Tão curiosa como tu, pelo que vamos arrancando.

Espero que o meu amor te chegue. É tudo quanto possuo para te compensar do que não tiveste por mim.

Logo, vou pedir-te para tocares para mim enquanto faço o jantar. Quando chegares, vou ter a banheira à tua espera... cheiinha de espuma. Não, não são sais de banho... descobri que o shampô faz uma espuma do caraças.

Já sinto um aperto de fome por ti. Vou matar as horas que ainda faltam para te ter nos meus braços.

Não, pobres não somos nós, meu querido.

terça-feira, setembro 07, 2004

(História) O Menino e o Tesouro

Há muito, muito tempo, um menino encontrou um tesouro. No mundo onde vivia, aquele tesouro não tinha valor material nenhum; mas não deixava de ser um tesouro muito especial - era o simbolo da pureza, honestidade, humildade, caracter e frontalidade.

O menino, talvez por viver num mundo materialista, e talvez por ser apenas um menino, não sabia bem o valor moral do seu tesouro, mas sabia, isso sim, que o amava.

Dedicou-lhe então anos da sua vida, tentando colorir todos os dias do seu tesouro com a alegria e meiguiçe que possuía. O tesouro estava feliz e o menino também.

Só que o menino nunca entendeu o significado daquilo que sabia apenas ser um tesouro, e da responsabilidade que Deus lhe tinha conferido ao dar-lhe a oportunidade de ser ele a descobri-lo; e assim, nunca cresceu.

E ao não crescer, o menino, que até era puro, honesto e humilde, nunca soube o que significava ser perserverante. Aos poucos, e por ainda não ter crescido, o menino foi magoando a sua maior riqueza - o seu tesouro.

Mesmo assim, o seu tesouro, magoado e humilhado, nunca deixou o menino, fazendo-o entender aos poucos que apesar de tanto sofrimento o tesouro não ia embora - estava ali - e o menino aprendeu o que era ser perserverante; neste caso, o tesouro lutava pelo que amava e por tudo aquilo em que acreditava, e mesmo magoado não desviava a sua rota.

O menino aprendeu o significado da palavra perserverança, mas continuou a ser o que era; um simples menino. E como menino que era, entendeu que o tesouro valia muito mais do que ele, e como tal merecia muito mais, que o menino, por ser apenas menino, achava não poder dar.

O tesouro sempre esperou o menino, mas o menino, por achar que não estava à altura, teve medo e afastou-se.

O tesouro, triste, foi embora de vez.

Hoje, o menino já não tem tesouro - não é feliz, mas também já não é menino. Sabe agora que, como menino que foi, nunca mereceu tal oferta de Deus, mas hoje, como homem que é, recorda com tristeza aquele lindo e simples tesouro, que por um dia ter sido menino, perdeu, para nunca mais ter.

E todos os dias este homem reza a Deus pelo seu tesouro, não para o reaver, porque já o perdeu, mas para que da próxima vez Deus dê aquele seu antigo bem precioso a alguém que o possa merecer.

E todos os dias este homem chora porque já não é menino, não é feliz, e não tem tesouro.

(Pensamento) Mudar o Mundo

Queria ter forças para mudar o mundo; mudar as regras, mudar a forma de estar e de pensar, mudar o acreditar das pessoas, acabar com o triste conformismo, abolir o egoísmo, a mesquinhez e a malvadez.

Queria que todos fossem felizes pelo menos como eu por momentos sou; queria que todos chorassem quando observassem injustiças, sofrimentos e dôr de outros idênticos a si, e que daí para a frente não mais ficassem colados ao chão; queria que todos começassem a reagir ao mal que habita no mundo; queria acabar com a intolerância e ser intolerante com o mal; queria acabar com a fome e com as guerras; queria acabar com a pobreza de espírito e com o individualismo.

Queria ouvir as vozes deste miserável povo silencioso, sonâmbulo, irremediavelmente morto dentro de corpos aparentemente vivos que se vangloreiam das mais imbecis conquistas pessoais enquanto fecham os olhos às atrocidades que os rodeiam.

Queria acabar com os falsos amigos e com os falsos casamentos; queria que a partir desse dia todos tivessem coragem de assumir o que são e o que querem - sem medo e sem vergonha de uma sociedade hipócrita que eles mesmos deixaram construir.

Acabava com os parasitas, com os oportunistas e com os mentirosos; a partir desse dia todos iriam contribuir com o seu esforço e dedicação para tornar nobre uma causa comum: o bem estar do próximo.

Mas hoje, e apenas hoje, queria ter forças para tentar mudar outra vez a minha vida, aquela que por momentos me faz feliz como por momentos eu sou.

quarta-feira, setembro 01, 2004

Regras do Espaço

São aqui apresentadas algumas regras para um bom entendimento, utilização e funcionamento deste Espaço:

Identificação de Temas

Para uma rápida identificação da sua natureza, todos os textos estão tipificados no próprio cabeçalho nas seguintes categorias:

- Pensamentos
- Poemas
- Comentários
- Dissertações
- Histórias
- Infantil

Comentários

Cada texto pode receber um comentário por parte de quem o lê. Esse comentário não é colocado, por defeito, visível aos outros leitores, carecendo de aprovação. Pode também comentar todo o Blog através do Mural de Recados.

Pode ainda enviar sugestões sobre temas que gostaria de ver desenvolvidos neste Espaço ou sobre assuntos para os quais gostaria de obter uma opinião. Para isso, envie um mail para inquestionavel@hotmail.com e coloque no campo assunto, a palavra "Sugestão" ou "Opinião", consoante a sua intenção e desenvolva o tema.

Se o comentário requerer uma resposta, e se não a pretender receber como reply ao mail enviado, deve indicar um contacto alternativo para o qual a mesma deva ser enviada.

Contribuições

Os comentários, sejam eles de crítica, de consonância ou de complemento de ideias, são considerados por mim como muito importantes - por favor, deixe o seu.

Prefácio

(In)Questionável, apesar do seu significado inerente, pelo menos dúbio ou inseguro, representa para o autor um conjunto de valores, ideais e comportamentos, que ele assume para si próprio como inteiramente verdadeiros e nos quais ele ideologicamente acredita.

A razão porque o nome contém a palavra Questionável, deve significar tão somente, o dever de permitir aos seus leitores questionar o seu conteúdo, não lhes impondo as verdades em que acredita, como verdades universais, aceites por todos, mas antes como ponto de partida para reflexões individuais e ajustes por parte de quem pode contribuir para que estas possam ser as ‘suas’ verdades.

As aparentemente pequenas ou grandes contradições que o leitor possa, através da sua natural assimilação, detectar ao longo de todos os textos, deverão ser encaradas como um direito que assistiu ao autor, de também ele próprio questionar ou auto-críticar os seus valores perante vários pontos de vista, sendo esta uma importante (única) forma de evolução facultada ao ser humano.

O autor não tem, com esta publicação, a pretensão de ensinar, até pela falta de formação e conhecimento científico em áreas tão vastas e complexas como são, por exemplo, a sociologia e a psicologia, mas sim, de provocar o despertar de alguns leitores para a reflexão sobre valores e ideais que, na maior parte dos casos, se poderão resumir a senso comum, ou simples bom-senso.

Finalmente, reside aqui ainda, a esperança de poder ajudar alguns leitores a acreditar que o mundo muda, de cada vez que um dos seus habitantes evoluí positivamente, seja qual for a direcção escolhida. Cabe a cada um de nós mudar a tendência cada vez maior de apatia, conformismo e pessimismo com que o Homem de hoje encara a vida neste mundo maravilhoso.