quinta-feira, outubro 28, 2004

(Dissertação) Bons e Maus Pais - I

Se excluirmos desta abordagem todos os homens que são maus Pais por motivos óbvios (abandono físico dos filhos, maus tratos, etc.), existirão entre os Pais que restam analisar (os ditos Pais normais), os que podem, mesmo assim, serem como que catalogados de Maus Pais?

Estou certo de que, mesmo deixando de fora os casos a que chamo de desvio funcional do laço parental, existem vários Pais que falham de forma contundente a sua missão.

São estes os casos que vamos tentar analisar, começando por enumerar as necessidades de uma criança, aquelas que poderão influenciar de forma decisiva o seu crescimento.

Para além de alimento, de roupa e de educação escolar, todas as crianças necessitam de um acompanhamento equilibrado, num misto de atenção, cuidado e carinho.

Necessitam também (e já o referi no texto Bases da Relação Feliz), de um ambiente estável e bem alicerçado, porque é nesse ambiente que crescem, se desenvolvem, aprendem e tiram lições para a vida.

Provavelmente, este acompanhamento equilibrado será em parte responsável pela sua auto-estima, pela sua confiança e espírito de liderança, pela forma como desenvolvem relações com terceiros e pelo modo como encaram e reagem às adversidades.

Apesar de acreditar que parte destas características possam ser de alguma forma inatas em algumas crianças desde o seu nascimento e, portanto, fruto dos genes que transportam dentro de si, também acredito que todas elas podem ser trabalhadas e desenvolvidas nas crianças que não as possuem logo à partida.

E é precisamente aqui que reside a grande missão dos Pais – ajudar os filhos a superar dificuldades e inaptidões, não os substituindo nesses desafios, mas sim preparando-os para serem seres capazes e autónomos na forma de os enfrentar.

Neste aspecto, podemos tipificar os Pais em três grupos: os Pais que não sabem ensinar e preparar, os Pais que acham que ensinar e preparar é executar todo o tipo de desafios pelos filhos e, portanto, em sua substituição e os Pais que ensinam e preparam através da orientação, dando liberdade de acção de forma equilibrada à criança.

No primeiro grupo, estão aqueles Pais cujo tipo de vida egocentrista os torna de tal forma egoístas que não lhes permite investir tempo algum no acompanhamento dos filhos e, como tal, substituem a sua atenção recorrendo às baby siters, aos Avós, às televisões, aos filmes, às Play Station e aos Game Boy, de forma constante e recorrente.

Não que eu considere que os chamados jogos de computador sejam prejudiciais às crianças, antes pelo contrário. Estou certo que em termos gerais estimulam o seu desenvolvimento, atenção, destreza e os preparam de forma natural para o futuro que os espera - o das tecnologias de informação.

No entanto, a forma constante e recorrente com que alguns Pais substituem o acompanhamento dos filhos por terceiros e pelas tecnologias existentes é que deve ser entendida como preocupante, porque reveste uma forma de abandono e de isolamento.

Infelizmente, para estes Pais tudo parece servir para os manter calados, ocupados, distraídos e sossegados, permitindo assim que lhes sobre tempo para o que têm de mais importante - não os seus filhos, mas antes a sua própria vida.

E nenhum ser humano, quando se torna Pai, deixa de ter vida própria (continua a tê-la e deve mantê-la também). Mas a sua vida própria comporta agora uma outra responsabilidade - a educação e acompanhamento de um filho.

Até determinada idade, o amor dos filhos pelos seus Pais é incondicional e o tipo de Pai que somos não tem influência redutora nesse amor. No entanto, isto não significa que os filhos não sintam esta forma de abandono e que, dia após dia, não sofram com as constantes expectativas defraudadas por não poderem estar mais uma vez com o seu Pai (e estar é estar em comunhão, em partilha).

Mais tarde, quando a criança desenvolver o seu sentido crítico, julgará o Pai que tem e, deste julgamento, nenhum dos Pais está livre.

Acredito que estes Pais não tenham sequer ideia do que se pode passar dentro das cabeças das suas crianças; talvez pensem que são pequenos demais para se aperceberem de tudo o que os rodeia. Mas é precisamente entre os três e os seis anos de idade que as crianças estão mais receptivas a assimilar tudo o que se passa no exterior, à volta do seu mundo que, ao contrário de ser pequeno, cresce exponencialmente de dia para dia.

Estas crianças ficam por vezes com marcas de insegurança e várias carências de ordem afectiva que lhes prejudicará a construção de relações futuras.

Se no Pai que vive com a mãe dos filhos, estas falhas podem ser atenuadas (e apenas atenuadas) pela presença da progenitora, no caso do Pai divorciado, a proporção dos danos é bastante superior, porquanto o Pai negligencia de forma sistemática o único tempo que tem para acompanhar os filhos.

É assumido que a vida do Pai divorciado deve mudar radicalmente nos dias em que priva com os filhos. Não existe a Mãe dos filhos para o substituir em nenhuma tarefa, pelo que as suas prioridades devem estar focalizadas para o maior bem que possui - as suas crianças.

Não obstante esta Verdade, este tipo de Pais entrega a maior parte dessas horas aos Avós e às baby siters para não ter que alterar a sua forma egoísta de estar na vida.

Normalmente, os jantares com os amigos têm prioridade, os jogos de futebol também, as reuniões de trabalho idem e por aí fora, numa lógica totalmente inconsciente onde a importância da criança não tem o papel central que deveria ter.

No segundo grupo, estão aqueles Pais que dedicam tempo e atenção ao acompanhamento dos filhos, mas que o fazem, na maioria das vezes, de forma errada. Infelizmente, não basta dedicar tempo e acompanhar – é necessário saber como o fazer.

O Pai que investe tempo a ensinar um filho e lhe dedica a frase “caramba, nunca fazes isto direito” sempre que assiste a um erro, poderá estar a fazer ainda pior do que o Pai tipificado no primeiro grupo – é que por vezes mais vale um filho não ensinado e preparado (porque pode sempre ter uma grande capacidade de auto-didatismo e elevados graus de confiança adquiridos por outro meio), do que um filho com traumas e sequelas impeditivas, fruto da linguagem negativa dos Pais (não é assim tão raro vermos crianças e adolescentes assumirem para si próprios que nunca fazem nada direito ou que não vão conseguir superar os desafios com os quais se irão deparar).

Muitos Pais cedem à tentação de "fazer pelos filhos", substituindo-os nas mais diversas tarefas, impedindo-os assim de aprender errando mas, ao mesmo tempo, praticando e aperfeiçoando o resultado.

Os Pais devem orientar os filhos, deixando a experiência prática para eles. E essa experiência trará resultados por diversas fases: desde o resultado insuficiente até ao resultado satisfatório. Nesse entretanto, é necessário acompanhar a criança com diálogos positivos, tais como "está cada vez melhor", em vez de "estás sempre a fazer mal" ou "ainda não chega para ser bom".

Pode residir aqui a diferença entre uma criança construindo confiança e auto-estima e uma outra incapaz de o fazer e, portanto, insegura dos resultados que um dia pode produzir.

No terceiro grupo estão aqueles Pais que perceberam que dedicar tempo e atenção ao acompanhamento dos filhos tem como objectivos dar conhecimento e contribuir para o desenvolvimento, bem como cimentar atitudes e posturas perante situações.

Neste caso, é essencial saber trabalhar o conhecimento, a auto-estima e o grau de auto-confiança da criança ou adolescente, porque estas serão as suas ferramentas base para conquistar e vingar no futuro.

Enquanto que transmitir conhecimento a um filho pressupõe a partilha de um conjunto de informações executada de forma metódica, elevar a auto-estima e cimentar a confiança obriga a dar espaço à experiência individual. E esse espaço deve ser complementado com diálogos positivos, de encorajamento e satisfação.

Integrar um filho em algumas decisões pode também ser relevante para o adquirir de confiança. Perguntar "estou a pensar fazer isto de determinada maneira, o que achas?" pode produzir efeitos muito positivos a médio prazo, mesmo que o Pai tenha de guiar uma resposta não satisfatória do filho ao que pretendia fazer, corrigindo-a para "e se fizessemos antes assim?".

São as pequenas diferenças (de atitude, de linguagem e de margem) no acompanhamento e educação de uma criança que normalmente produzem resultados acima da média.

Pensemos um pouco em tudo isto e sejamos Verdadeiros Pais.

quarta-feira, outubro 13, 2004

(Pensamento) Mudança - II

A mudança é uma dádiva que o Homem soube impôr a si próprio.

domingo, outubro 10, 2004

(Infantil) O Espantalho

Nos campos da vila vivia um espantalho, cravado no alto de um pau, para afugentar todos os pássaros das colheitas que ali cresciam.

O espantalho tinha-se tornado num ser triste e solitário, pois nunca tinha a companhia de ninguém; nem a dos pássaros, incumbido estava de os afastar.

Cansado e muito só, virou-se para o céu e disse: “Ai Jesus, se eu pudesse pedir um desejo, um único que fosse, pedia para ser livre durante um dia!”.

Ao imaginar como seria não ter aquele pau a segurar o seu corpo de palha e poder correr pelos campos, ir até à vila, conviver e brincar, desatou num choro de anos que hoje já não conseguia conter.

De repente, notou que no céu se formava uma grande luz, tão forte que aquele início de manhã se parecia tornar numa linda tarde.

E a luz falou para ele: “Espantalho!... Espantalho!...”.

O espantalho estava agora cheio de medo.

“Quem fala para mim?” disse, olhando de forma fixa para aquela luz.

“Sou eu, Jesus. Ouvi a tua prece e decidi conceder-te esse teu desejo.”.

O espantalho tremia de medo mas também de alegria... “Meu Deus, Jesus! Porque olhaste Tu para mim?”, perguntou.

“Porque te senti demasiado só. E acho que és um espantalho de bem”, disse Jesus.

Ao dizer estas palavras, Jesus fez desaparecer o pau que sustentava o espantalho e ele pôde colocar os seus pés de palha no chão.

“Vai espantalho, diverte-te neste dia que tanto pediste aos céus. Espero-te no final da tarde.”.

“Obrigado! Obrigado!”, disse o espantalho, ajoelhado perante a luz, entre lágrimas e sorrisos.

E desatou a correr! Primeiro pelos campos que fizeram dele prisioneiro e depois em direcção à vila.

Quando lá chegou, todos os habitantes se espantaram com a sua presença e aproximaram-se para saber o que se tinha passado.

O espantalho contou a sua história e logo depois foi brincar com os meninos e meninas junto da fonte da praça.

E brincou, molhou-se, tomou banho com outros meninos e meninas, foi almoçar com os homens e mulheres, falou, falou, e também ouviu a tarde toda, as histórias que faziam a alma daquela vila.

Todos gostaram imenso do espantalho, e ofereceram-lhe um belo lanche. No final, quando os seus novos amiguinhos o convidaram para brincar novamente, o semblante do espantalho mudou e a tristeza tomou conta do seu rosto.

“Não posso, tenho de me ir embora. Prometi a Jesus que lá estaria no final da tarde e não me quero atrasar.”.

“Fica!”, disseram alguns dos homens da vila. “Se ele te soltou, às tantas é para que não tenhas de voltar mais! Fica connosco!”.

Mas o espantalho virou costas e, de lágrimas nos olhos, foi embora. Chegado ao campo e vendo o pau que durante tantos anos o segurou, disse: “Jesus! Estou aqui!”.

A luz apareceu novamente e perguntou: “Então, gostaste deste teu dia de liberdade?”.

“Sim, gostei muito...”, disse o espantalho.

“Então porque voltaste?”, perguntou Jesus.

“Porque o tinha combinado contigo.”, rematou o espantalho.

“Num dia, fiz tudo o que em toda a minha vida nunca tive hipóteses de fazer, e apesar de me custar muito voltar a ser um simples espantalho cravado num pau, quero agradecer-Te por teres atendido o meu pedido e me teres deixado provar a liberdade. O dia que me deste porque foi desejo meu já passou e assim, como ficou combinado, aqui estou.”.

“Sabes,”, disse Jesus, “fico contente que saibas o quanto importante é cumprir as nossas promessas e também sei o quanto custou teres de vir embora... toda a gente gostou de ti – eu disse-te que eras um espantalho de bem.”.

O espantalho ouvia as palavras de Jesus, tendo o pau na mão, aquele que o iria mais uma vez segurar pela vida fora.

E Jesus continuou: “Tenho uma outra surpresa para ti. Larga o pau, nunca mais vais necessitar dele porque a partir de hoje és um espantalho livre. A tua liberdade foi ganha por ti, porque soubeste cumprir o prometido.”.

E o espantalho, louco de alegria, beijou demoradamente a luz e saiu a correr, para não mais voltar.

E na vila fez-se festa, com música, comida e foguetes, e ninguém dormiu, até de manhã.

Conclusão:

Cumpre sempre a tua palavra; ela é parte do teu carácter. E mesmo que um dia te custe cumprir, lembra-te que o que acontece de bom no futuro pode estar a depender dela.

sexta-feira, outubro 08, 2004

(Pensamento) Ganhar as Guerras

Ganhem as guerras negociando a Paz.

quinta-feira, outubro 07, 2004

(História) Para Não Mais Voltar

Hoje acordei no meio de um imenso nevoeiro. Na rua, um estranho silêncio passeava por entre pessoas cinzentas, prédios sem côr e passeios tristes. Tinhas partido, para não mais voltar.

Deambulei, ainda meio confuso, pelas estradas da minha vida e obriguei-me a recordar tudo o que tinhas de lindo, de puro e de verdadeiro.

Pura ilusão. Estavas, já não estando, e partiste, para não mais voltar.

A minha casa estava agora diferente. Os troncos tinham secado, mesmo vivendo dentro de água. As revistas, aquelas que liamos em conjunto, estavam ainda fechadas. O sofá já não tinha mais a tua companhia.

Esperei por um sorriso que nunca apareceu, ou por um qualquer carinho que me acordasse a alma. Agora, as tuas palavras soavam-me longe, distorcidas e sem convicção. Tinhas partido, mesmo estando, para não mais voltar.

Durante todo o tempo em que foste vida na minha, acreditei que estando por ti e para ti, te agarraria para sempre a mim. Mas já me tinhas avisado... mesmo sem nada dizer... com os mesmos olhos meigos com que me amaste... que um dia partirias, para não mais voltar.

Hoje, recordei a nossa noite... aquela... recordei a tua alegria, a tua meigiçe, a tua coragem, a tua força e a tua determinação. Recordei o teu corpo perfeito, a tua voz deliciosa, o teu cheiro viciante... e as tuas mãos, as tuas lindas mãos... que partiram, para não mais voltar.

E assim foi.

Mudaste, talvez por te teres perdido ou finalmente encontrado, mas com isso mudaste também toda a vida que era, também ela, minha.

E ainda hoje penso: porque partiste tu?

quarta-feira, outubro 06, 2004

(Pensamento) Perseverança

Perseverança...
um pequeno detalhe,
uma diferença abismal.

(Infantil) Um Valioso Presente

O Rei de um belo castelo procurava marido para a sua única filha. Era um homem sábio, justo e amigo do seu povo.

Amava a sua filha e não a querendo obrigar a casar com escolha sua, apresentou-lhe três Príncipes de reinos vizinhos. Todos eles eram de sangue azul e todos tinham posses que herdaram das suas famílias.

Havia, no entanto, um problema: a Princesa estava apaixonada por um simples plebeu - não tinha sangue azul, não tinha posses e era de família humilde, mas era um homem íntegro e totalmente dedicado ao seu amor.

O Rei, ao saber do amor de sua filha, e não podendo preterir os pretendentes de sangue azul a bem do espírito de amizade com os povos vizinhos e da própria lei do seu reino, decidiu estabelecer uma prova para os três fidalgos (mostrando assim imparcialidade na escolha), incluíndo também o plebeu, tendo em conta a boa relação com o seu próprio povo.

E disse a todos:

"O que mais quero para a minha filha é alguém que se entregue de alma e coração, dedicando-se a ela e aos futuros filhos. Quem o fizer com a minha filha, falo-á também ao povo do seu novo reino."

"E porque não pretendo fazer distinção entre fidalgos e plebeus, mais ricos ou mais pobres, fica incluído na prova um plebeu em representação do meu povo - porque este reino existe porque existe povo."

"Assim, quem, em trinta dias, oferecer à minha filha a prenda que melhor represente o que mais quero para ela, ficará com a sua mão."

Desde o primeiro dia que o plebeu meteu mãos ao trabalho para acabar a sua prenda a tempo, mas tinha muitos problemas: tinha pouco dinheiro e seus pais dependiam do seu sustento, não tinha património para oferecer nem terras de cultivo, ricas em produtos. No entanto, trabalhava bem a madeira e então meteu mãos à obra.

Num único dia, o primeiro fidalgo mandou vir da India as mais belas joias, tecidos e adornos, coisa que nenhum outro reino tinha ainda visto.

Também num único dia, o segundo fidalgo escriturou em nome da filha do Rei, dez das suas mais belas propriedades.

E o terceiro fidalgo, de uma assentada, mandou colher os mais soberbos produtos das suas vastas quintas, espalhadas pelo mundo.

No final do prazo, todos se reuniram com o Rei no seu castelo e apresentaram as suas ofertas. Depois das valiosas ofertas dos fidalgos, o plebeu mostrou um placa de madeira, talhada com a sua figura, a figura da sua amada e as pequenas figuras dos filhos que sonhava ter.

O Rei decidiu dizendo:

"Dos trinta dias que dei, os três nobres fidalgos investiram apenas um para conquistar a minha filha. Pelo contrário, o plebeu investiu todos os dias no amor que sentia, ao criar com as suas próprias mãos o futuro que merece ter. A mão da minha filha a ele pertence."

A Princesa e o plebeu casaram e foram felizes para sempre.

Conclusão:

O valor de um presente está no tempo investido para o fazer ou encontrar, nunca no seu valor monetário.

terça-feira, outubro 05, 2004

(Pensamento) Felicidade

A felicidade está onde nós a construirmos.

segunda-feira, outubro 04, 2004

(Pensamento) Verdadeira Nobreza

A verdadeira nobreza de um ser humano observa-se no tempo que dedica na ajuda a outros, relegando para segundo plano os seus próprios problemas.

sábado, outubro 02, 2004

(Dissertação) Sucesso de uma Licenciatura

Os três pontos que posso considerar como vitais para o sucesso de uma licenciatura são a importância do professor para o aluno, a importância do esforço do aluno no atingir desse mesmo sucesso e a importância da licenciatura para uma pessoa.


Triângulo do Sucesso

Como se pode traduzir então o Sucesso de uma Licenciatura? Vamos abordar a questão pelas partes identificadas e no final chegaremos a uma conclusão.

O professor tem um papel central no nosso sucesso?

Estou certo que entre as pessoas que leêm este texto, encontramos alunos que se puderam classificar de bons, médios, fracos ou maus.

Pessoalmente, não acredito num mundo de carácter exclusivamente económico, onde as palavras de ordem são "procurar a rentabilidade máxima", porque ele implica de forma automática, a exclusão dos mais fracos e a dificuldade de inserção dos menos bons.

É aceitável, e até desejável, que no final de uma linha de produção se separe o produto defeituoso do que está em perfeitas condições de comercialização, mas neste caso, estamos a falar de produtos, não de pessoas e, como produtos que são, não têm forma de se auto-melhorar, ao contrário das pessoas, que podem sempre aprender, evoluir e melhorar.

Acredito numa política de carácter social, que misture os bons com os médios e com os fracos, porque estes dois últimos podem sempre melhorar e, para melhorar, necessitam por vezes de orientação, de ajuda e de apoio.

No entanto, não pactuo com a preguiça - é para mim condição vital que os bons, os médios e os mais fracos tenham em comum o esforço e a dedicação.

Então, coloca-se a questão: "Como melhorar o aluno médio e o aluno fraco?"

A resposta é "através do empenho do professor".

O professor tem uma missão extremamente complexa que não deve ser reduzida muitas vezes ao tradicional "ensinar para os bons". Todo o professor tem como missão "ensinar para todos, fazendo crescer os médios e recuperando os fracos".

E como é possível recuperar os fracos?

- Dando confiança e motivação
- Ensinando a usar método
- Obtendo o máximo de esforço

Eu era um aluno mediano quando cheguei à Universidade e acabei o curso considerado como um dos melhores. Inteligência? Tenho alguma, mas conheci lá pessoas verdadeiramente inteligentes. No entanto, para além das boas notas em todas as cadeiras do curso, eu tinha sempre as melhores notas nos trabalhos práticos porque o meu esforço era dez vezes superior ao deles.

Tive lá professores que me deram muita confiança e obtiveram de mim o máximo esforço.

Sei que isto é possível porque aconteceu comigo, mudando para sempre a minha vida e, nos anos seguintes a ter terminado o curso, mudei a vida de vários explicandos usando a mesma técnica.

Porque é tão importante o esforço no sucesso de uma licenciatura?

Porque nos dá agilidade de pensamento, porque nos dá um método, resistência e confiança.

Há pessoas que nascem talhadas para certos desportos - têm um jeito natural e uma compleição física própria - mas não raras vezes, o melhor é aquele que mais tempo dedica ao treino. O esforço faz a diferença.

a) Agilidade de pensamento e resistência

- Os músculos ficam ágeis e resistentes quando estimulados periodicamente por exercícios - o cérebro também.

b) Método

- Quando por vezes se executa determinada tarefa com carácter esporádico, nem sempre o caminho usado é o melhor; frequentemente leva mais tempo.

- Mas quando é executada frequentemente, temos tendência para nos interrogarmos sobre qual a forma mais eficaz de a realizar. E isso leva-nos a ter método, a procurá-lo.

c) Confiança

- A confiança é consequência da agilidade mental que se começa a obter e do método que nos permite realizar tarefas com êxito e de uma forma mais rápida.

Esforço não significa necessariamente dedicação total com prejuízo de outras actividades, mas sim um investimento periódico e regular na construção de algo.

Quem investe uma hora por dia a pintar as paredes da sua casa, provavelmente em duas semanas tem o trabalho pronto. Por outro lado, quem espera pela altura de ter dois dias inteiros livres para a pintar, provavelmente ainda não iniciou o trabalho quando o primeiro já o terminou.

Quem investe uma hora por dia a aprender algo, no final de um ano realizou mais de 45 dias de oito horas a trabalhar; no final de quatro anos, realizou 182 dias de trabalho ao que corresponde 2/3 de um ano profissional.

Podemos então assumir que quem investe um pouco todos os dias a mais do que os outros, vai obter uma grande diferença em termos de conhecimento no final de um ano.

O que nos dá então uma licenciatura?

- Mais método
- Mais capacidade de esforço
- Mais resistência
- Mais agilidade mental
- Mais confiança
- Bases para aquilo que vamos fazer durante a nossa vida
- Alarga horizontes ao abrir várias portas ao nosso conhecimento

No mercado actual das tecnologias de informação, a evolução das ferramentas é tão rápida que ainda hoje duvido que uma licenciatura nos dê mais do que as bases.

Por isso, alguns nomes sonantes do nosso mercado empresarial, defendem que os cursos deveriam ter uma duração de apenas três anos (por se encontrarem por vezes tão desfasados nas ferramentas usadas), para que o ciclo de apredizagem no mercado de trabalho se iniciasse mais cedo.

Mas este é um exemplo de uma política puramente económica.

O tempo de crescimento e aprendizagem numa Universidade, se bem que mais lento, é essêncial para criar uma base sólida de confiança e de resistência, sem sujeitar o indivíduo às pressões exteriores.

Por alguma razão a sociedade ocidental proibiu o trabalho infantil (tudo tem de ter o seu espaço para atingir a maturidade).

Não se iludam: cá fora praticamente não existe política social, mas quase sempre económica.

Quando a sociedade perceber que pode recuperar grande parte dos indivíduos, então começará a seleccionar as pessoas apenas pelas suas características pessoais, muitas vezes em detrimento das competências profissionais.

Aos 25 ou 27 anos, um profissional mediano pode vir a tornar-se num excelente profissional (conheço muitos casos), mas raramente uma pessoa arrogante, mesquinha e egoísta se recupera.

São os valores sociais que têm raízes bem mais fortes do que as aptidões profissionais.

Então, já sabemos o que é e do que depende o sucesso de qualquer licenciatura.

E por último, como conclusão:

O que é então o sucesso no mercado profissional?

Profissionalmente, a nossa vida pode ser comparada a uma longa maratona:

- Os atletas devem ter um tempo de preparação, a que correspondem os nossos anos de estudo (e vejam a importância que a preparação tem);

- Depois correm a maratona, e isto corresponde ao conjunto de anos que iremos passar a trabalhar;

- E por fim, cortam a meta e descansam, e isto deve corresponder à nossa reforma.

Digam-me: Se numa prova de 45 Kms, um atleta começa desde logo a sprintar e aos 2 Kms tiver já uma grande vantagem sobre os outros, devemos considerar que ele é bom e que provavelmente irá ganhar?

Será que ele vai aguentar a prova toda? Provavelmente não, talvez seja apenas um inconsciente.

Quero com isto dizer que ninguém tem sucesso aos 30 ou 40 anos; o sucesso da nossa vida profissional vai ser quantificado apenas quando a corrida terminar, ou seja, na reforma de um profissional.

Até lá, ainda podemos chegar em primeiro.

sexta-feira, outubro 01, 2004

(Poema) O Outono

Caem as folhas lentamente
Já queimadas por mais um forte verão,
E cai com elas juntamente
A esperança da nossa união.

Passaram de um verde forte cheio de vida
A um castanho meio sem côr,
Perderam a força de outrora
Tal qual o nosso amor.

O tempo ameno e preguiçoso
Faz com que a natureza adormeça,
Tudo vai morrendo calmamente
Como morreu minha beleza.

E o vento arrasta por fim
As provas de uma vida anterior,
Espalham-se por centenas de quilómetros
As sementes do teu amor.

Resta agora uma imensa solidão
Neste corpo fraco e cansado,
Iluminada apenas pelas lembranças
Da harmonia do nosso passado.

Espero apenas que chegue a morte
Para mais nada poder recordar,
E livrar minha alma da dôr
De tanto te ter feito chorar.

Nasci a teu lado
E a teu lado respirei,
Tive em ti a companheira
Que pouco tempo aproveitei.

Confundi meu mal-estar neste mundo
Com algo de errado na nossa relação,
E maltratei a única pessoa
Que por amor me dava a mão.

Curioso como sinto que ainda me amas
Mantendo-me fechado no teu coração,
Mas preferes viver de mal com o mundo
A assumir a tua única paixão.

Hibernado ficarei a aguardar
Que chegue outra primavera,
Pois as sementes espalhadas
Farão nascer uma nova era.

(Pensamento) Mudança - I

Uma mudança nunca é periódica ou radical; a isso chama-se imposição.