quinta-feira, outubro 07, 2004

(História) Para Não Mais Voltar

Hoje acordei no meio de um imenso nevoeiro. Na rua, um estranho silêncio passeava por entre pessoas cinzentas, prédios sem côr e passeios tristes. Tinhas partido, para não mais voltar.

Deambulei, ainda meio confuso, pelas estradas da minha vida e obriguei-me a recordar tudo o que tinhas de lindo, de puro e de verdadeiro.

Pura ilusão. Estavas, já não estando, e partiste, para não mais voltar.

A minha casa estava agora diferente. Os troncos tinham secado, mesmo vivendo dentro de água. As revistas, aquelas que liamos em conjunto, estavam ainda fechadas. O sofá já não tinha mais a tua companhia.

Esperei por um sorriso que nunca apareceu, ou por um qualquer carinho que me acordasse a alma. Agora, as tuas palavras soavam-me longe, distorcidas e sem convicção. Tinhas partido, mesmo estando, para não mais voltar.

Durante todo o tempo em que foste vida na minha, acreditei que estando por ti e para ti, te agarraria para sempre a mim. Mas já me tinhas avisado... mesmo sem nada dizer... com os mesmos olhos meigos com que me amaste... que um dia partirias, para não mais voltar.

Hoje, recordei a nossa noite... aquela... recordei a tua alegria, a tua meigiçe, a tua coragem, a tua força e a tua determinação. Recordei o teu corpo perfeito, a tua voz deliciosa, o teu cheiro viciante... e as tuas mãos, as tuas lindas mãos... que partiram, para não mais voltar.

E assim foi.

Mudaste, talvez por te teres perdido ou finalmente encontrado, mas com isso mudaste também toda a vida que era, também ela, minha.

E ainda hoje penso: porque partiste tu?

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