quarta-feira, dezembro 29, 2004

(Pensamento) Amores

Há amores que nunca morrem, porque são sempre bem tratados.

Há outros amores que morrem de morte natural.

Há ainda outros amores que morrem porque os matam.

sábado, dezembro 25, 2004

(Poema) Natal

Natal...

... é nunca esquecer de quem gostamos...
... respeitar quem nos quer bem...
... ajudar quem necessita...
... estar sempre presente para quem amamos...
... suportar as injustiças sem ser injusto...
... e sorrir apesar de triste.

... é passear de mão dada...
... saber ouvir quem necessita desabafar...
... abraçar quem mais precisa...
... afagar a cara do infeliz...
... desculpar as maldades sem ser mau...
... e perdoar apesar de magoado.

... é dirigir uma palavra linda ao feio...
... dar a mão a um cego...
... prestar atenção ao deficiente...
... acarinhar todas as crianças...
... aceitar os maus momentos...
... e agradecer apesar de chorar.

... é prezar a sabedoria dos mais velhos...
... dar atenção a todos os idosos...
... falar com os abandonados...
... acompanhar todos os solitários...
... aceitar as limitações dos outros...
... e ser feliz apesar das nossas imperfeições.

Natal... é sabermos viver para os outros.

Seremos capazes?

domingo, dezembro 19, 2004

(Dissertação) O Prazer de Comunicar

Foi sempre essencial ao ser humano comunicar com o seu semelhante. No entanto, em tempos longínquos, comunicar era uma arte limitada a alguns sons, gestos, expressões e desenhos.

Na sua essência, a arte de comunicar já detinha tudo o que necessitava para evoluir - usava a voz, os movimentos faciais e corporais e também a imaginação.

Com o aproximar de várias civilizações pela utilização de meios de locomoção que permitiram as cruzadas e outras viagens de exploração, poder comunicar tornou-se imprescindível ao ser humano.

Nos dias de hoje, a globalização trouxe o penúltimo desafio ao Homem - comunicar numa única língua, sendo que o último desafio para a Humanidade talvez seja o de um dia comunicar com outras civilizações, não pertencentes ao nosso mundo.

Mas comunicar, para além de aproximar civilizações, assume também um papel preponderante a outro nível - o pessoal, nomeadamente no estabelecimento de relações, no fortalecimento de laços afectivos e na expressão das nossas necessidades sentimentais.

E, para isso, não basta poder comunicar, é necessário saber fazê-lo, é necessário saber comunicar.

Apesar de todos nós vivermos rodeados por outras pessoas, não é raro encontrarmos pessoas que vivem isoladas em si mesmas, numa completa solidão. São pessoas incapazes de exprimir de forma correcta as suas vontades, sentimentos, alegrias, medos e frustações.

Podemos dividi-las em dois tipos:

As primeiras, apesar de comunicarem frequentemente, experimentam várias dificuldades na fidelização de relações e na criação de laços afectivos fortes.

Mesmo não tendo dificuldades de expressão oral, apresentam um outro tipo de dificuldades, normalmente de ordem afectiva e psicológica.

São pessoas inseguras, indecisas e com pouco amor próprio.

Provavelmente sofreram, durante algum período de suas vidas, repressões de vária ordem, perdendo aos poucos confiança em si mesmas.

Muitas delas são pessoas extremamente válidas, mas com barreiras internas que muitas vezes impedem o estabelecimento de uma relação afectiva normal.

Necessitam de se libertar, mas para isso terão de dar o primeiro passo - aprender a saber comunicar.

As segundas, têm dificuldades na expressão oral e, como tal, pressupõem que não têm o poder da comunicação.

Aclaremos então um ponto, o ponto principal:

Uma óptima expressão oral não é pré-requisito para saber comunicar - normalmente, saber comunicar tem relação directa com tempos, escolhas e atitudes.

Quer isto dizer que, para sabermos comunicar, temos de saber em que alturas devemos falar, em que alturas devemos fazer e em que alturas não devemos nem falar, nem fazer.

Implica também perceber que a palavra complementa apenas a acção, nunca a substituindo, pelo que o acto de fazer vale muito mais do que simplesmente falar (de que adianta dizermos várias vezes que amamos determinada pessoa quando as nossas acções são de desrespeito, afronta ou indiferença?).

E falar não implica a utilização de frases complexas, mas antes a utilização de diálogos claros, francos e directos.

Em suma, a arte de bem comunicar pressupõe que saibamos quando agir em vez de falar, quando falar em vez de agir (de forma transparente e verdadeira) e quando não falar e não agir.

Não há relação sentimental que resulte em pleno quando não se sabe comunicar. A Amizade, a Honestidade e a Cumplicidade necessitam do tipo de comunicação de que falei.

E estas três, juntas com o Amor e o Tempo são a base da Relação Feliz.

Não há como fugir, e comunicar pode dar um enorme prazer, vamos todos experimentar?

quarta-feira, dezembro 01, 2004

(Dissertação) Bons e Maus Pais - II

Se, no passado, a educação dos filhos estava entregue a tutores e o acompanhamento do seu dia-a-dia ao cuidado das amas (usual nas classes média-alta e alta), cabendo nessa altura ao Pai o papel de garante financeiro da Família e à Mãe o papel de gestora da casa, hoje assiste-se em muitos casos, à passagem de esse extremo para um outro, onde a criança assumiu na Família um papel central, de tal forma preponderante, que todas as decisões, das pequenas às grandes, passam pela expressão e execução à letra da sua vontade.

Talvez fruto de uma consciêncialização crescente da sociedade sobre temas que abordam a importância de um tempo de qualidade e de um maior acompanhamento das crianças, muitos Pais caíram no erro de dar um relevo exagerado às vontades dos filhos, submetendo as mais variadas decisões (decisões essas de sua única responsabilidade), ao seu escrutínio.

Quando aliado a uma nova moda de frisar que os melhores amigos dos Pais são os filhos, esse erro acaba por esvaziar o poder parental e, por consequência, enfraquecer quem deve ser o garante da educação, ou seja, os próprios Pais.

A preponderância que a opinião de uma criança assume em diversas escolhas familiares e o seu carácter muitas vezes decisivo, leva-me a concluir que há Pais que, ao contrário do que se passava no passado, delegaram nas crianças um poder que nunca lhes deveria assistir.

Nestas famílias, a criança obteve um papel central e decisor, muito à margem do que seria aconselhável, relegando para um segundo plano, as vontades dos seus progenitores e, o que em determinadas alturas, seria o mais acertado.

Intervêm nas compras de supermercado exigindo alimentação não aconselhável, na escolha de roupas de gosto duvidoso (quem já não reparou nas crianças que compraram uma determinada peça de roupa que, em qualquer outra situação não seria nunca escolha dos seus Pais?) e por vezes na escolha do destino de férias de todo o agregado familiar.

São Pais de autoridade frágil, que não distinguem atenção de subserviência e assim vão cedendo aos mais diversos caprichos dos seus filhos, sem saberem como lhes negar desejos e vontades.

E assim, assistimos hoje a uma completa confusão no que diz respeito à educação de um filho: confundem-se cedência com flexibilidade, imposição com autoridade, subserviência com atenção e opinião com decisão, entre algumas outras.

Todos os Pais devem ser flexíveis sem no entanto cederem a caprichos, devem exercer autoridade enquanto Pais sem a confundir com imposição, devem dar atenção aos desejos dos seus filhos ser serem subservientes com os mesmos e devem ouvir a sua opinião sem no entanto fazer dela necessariamente decisão.

É necessário saber educar com amor, atenção, compreensão e carinho, mas também com autoridade, rigor e disciplina. É desta mistura em quantidades certas que nasce uma educação salutar e eficiente.

Será que estamos todos capazes desta tarefa?