quarta-feira, dezembro 01, 2004

(Dissertação) Bons e Maus Pais - II

Se, no passado, a educação dos filhos estava entregue a tutores e o acompanhamento do seu dia-a-dia ao cuidado das amas (usual nas classes média-alta e alta), cabendo nessa altura ao Pai o papel de garante financeiro da Família e à Mãe o papel de gestora da casa, hoje assiste-se em muitos casos, à passagem de esse extremo para um outro, onde a criança assumiu na Família um papel central, de tal forma preponderante, que todas as decisões, das pequenas às grandes, passam pela expressão e execução à letra da sua vontade.

Talvez fruto de uma consciêncialização crescente da sociedade sobre temas que abordam a importância de um tempo de qualidade e de um maior acompanhamento das crianças, muitos Pais caíram no erro de dar um relevo exagerado às vontades dos filhos, submetendo as mais variadas decisões (decisões essas de sua única responsabilidade), ao seu escrutínio.

Quando aliado a uma nova moda de frisar que os melhores amigos dos Pais são os filhos, esse erro acaba por esvaziar o poder parental e, por consequência, enfraquecer quem deve ser o garante da educação, ou seja, os próprios Pais.

A preponderância que a opinião de uma criança assume em diversas escolhas familiares e o seu carácter muitas vezes decisivo, leva-me a concluir que há Pais que, ao contrário do que se passava no passado, delegaram nas crianças um poder que nunca lhes deveria assistir.

Nestas famílias, a criança obteve um papel central e decisor, muito à margem do que seria aconselhável, relegando para um segundo plano, as vontades dos seus progenitores e, o que em determinadas alturas, seria o mais acertado.

Intervêm nas compras de supermercado exigindo alimentação não aconselhável, na escolha de roupas de gosto duvidoso (quem já não reparou nas crianças que compraram uma determinada peça de roupa que, em qualquer outra situação não seria nunca escolha dos seus Pais?) e por vezes na escolha do destino de férias de todo o agregado familiar.

São Pais de autoridade frágil, que não distinguem atenção de subserviência e assim vão cedendo aos mais diversos caprichos dos seus filhos, sem saberem como lhes negar desejos e vontades.

E assim, assistimos hoje a uma completa confusão no que diz respeito à educação de um filho: confundem-se cedência com flexibilidade, imposição com autoridade, subserviência com atenção e opinião com decisão, entre algumas outras.

Todos os Pais devem ser flexíveis sem no entanto cederem a caprichos, devem exercer autoridade enquanto Pais sem a confundir com imposição, devem dar atenção aos desejos dos seus filhos ser serem subservientes com os mesmos e devem ouvir a sua opinião sem no entanto fazer dela necessariamente decisão.

É necessário saber educar com amor, atenção, compreensão e carinho, mas também com autoridade, rigor e disciplina. É desta mistura em quantidades certas que nasce uma educação salutar e eficiente.

Será que estamos todos capazes desta tarefa?

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