quinta-feira, novembro 11, 2004

(História) Milagres de Deus

Para mim, todos os dias são lindos... mas, talvez como toda a gente, tenha uns dias mais lindos do que outros... são aqueles em que acontecem os Milagres de Deus.

Para além dos fins de semana quinzenais, durante dois dias e duas noites por semana, tenho o previlégio de ficar com os meus filhos (o Miguel que vai fazer seis anos e a Carolina que irá fazer três) e de, nessa altura, ser ainda mais Pai do que nos outros dias.

Por cada um desses dias, são quatro horas até deitar, repletas de desafios e de imensas alegrias:

São os pequenos abraços quando os vou buscar à escola, abraços do tamanho de um Xi, apertados e seguros, tal como um grande mata saudades...

São os lanches no café, as companhias no supermercado, os passeios de trotinete ou os deveres para fazer até às sete...

São os banhos ao chegar a casa, com bolinhas de água e ar a brincar com três corpos que por momentos se transformam em apenas um, como que a provar que a semente está lá, presente em cada um...

São as toalhas, o chão molhado, os cremes e os cheiros, os pijamas, os roupões e os chinelos, os risos, os beijos, os abraços e as brincadeiras com os patinhos amarelos...

São os minutos a preparar o jantar com as suas ajudas; um deles põe a mesa, o outro mexe a sopa... ficando no fim o sentimento de se terem sentido úteis ao contribuirem para uma necessidade comum...

São as suas independências durante a refeição; servem-se do garfo e da faca, da colher... comem sózinhos, como se fossem já pequenos adultos. Riem, brincam e gabam a comida, como se tivesse sido confeccionada por um "chief" francês...

São os minutos de lazer após o jantar, a jogar computador ou a pintar, a ouvir uma história ou apenas a brincar...

São os tons suaves do antes de dormir, no quarto, os três tão juntos a ver um qualquer pequeno pedaço de filme animado, aguardando que o sono chegue... as festas, o tocar dos seus pézinhos, das suas mãos e o som mágico das suas palavrinhas de amor...

São os seus rostos já em descanço, em paz com o mundo e de bem com a vida, felizes, aguardando tranquilamente um novo dia...

São os lentos acordares pela manhã, com sorrisos e toques de bons dias e corridas para o pequeno almoço feito de leite, flocos e pão e as pequenas conversas com a Conceição...

São o preparar dos seus lanches, as saídas com as batas, uniformes e manuais, o passear das mochilas e os beijos de despedida com um até logo mais...

Quando ficam por fim entregues ao seu dia na escola, sobram as suas roupinhas para lavar e a enorme esperança de que no dia seguinte aconteça um novo Milagre de Deus.

E por cada um Lhe agradeço, do fundo do meu coração.

quinta-feira, novembro 04, 2004

(Poema) Viagem

Podemos um dia partir
com tempo para viajar anos,

percorrer país por país,
conhecer novos mundos, novos costumes,
novas línguas e novas vestes,

conhecer outros credos, novas fés,
novos paladares e outras iguarias.

Podemos ver arquitecturas diferentes,
vidas mais lentas, outros valores
e paisagens mais quentes.

Podemos até conhecer outras pessoas,
vaguear os seus pensamentos
e amar a sua intimidade.

E tudo isso é belo e divino.

Mas nada se compara
ao mundo de um Homem,
que ele sabe ser sempre seu.