domingo, junho 24, 2007

(Poema) Tudo em Ti

Adoro tudo em ti...

As tuas feições,
os teus traços,
as tuas mãos e braços.

O teu requinte,
a tua inteligência,
a tua calma e paciência.

A tua postura,
os teus sabores,
os teus cheiros e odores.

A tua sensibilidade,
os teus gemidos,
os teus gestos queridos.

Adoro tudo em ti...

A tua atitude,
a tua fragilidade,
a tua pureza e verdade.

Os teus sonhos,
os teus anseios,
as tuas expectativas e receios.

O teu pulsar,
a tua imaginação,
o teu humor e preocupação.

O teu corpo,
os teus peitos,
as tuas virtudes e defeitos.

... tudo em ti.

(Dissertação) Crianças Especiais

Há mesmo crianças especiais. Crianças que por um qualquer acaso na gestação, nasceram diferentes de todas as outras.

Curiosamente, sempre estive muito próximo delas. Porque convivi aqui ou ali em pequeno com algumas e porque precisamente nessa altura a educação e intervenção dos meus Pais foi essêncial e determinante na forma como passei a olhá-las.

Nunca desde esse momento as vi como detentoras de algum handicap em relação às outras, mas apenas como diferentes num aspecto concreto, como aliás todos nós, ditos "normais", somos diferentes aqui ou ali dos demais.

Durante todas as etapas do meu crescimento até chegar à idade adulta, a forma de as olhar foi ganhando novas dimensões, tornando-se hoje muito mais globalizadora, encerrando por isso no seu âmbito um conjunto muito mais vasto de meninos e meninas especiais.

E a minha atitude perante estas pessoas passou a assentar numa maior atenção, carinho e cuidado.

Devemos lembrar sempre que alguns dos factores que determinam a nossa auto-estima estão relacionados com os inputs do mundo exterior, ou seja, com a forma como o mundo que nos rodeia interage connosco, uma vez que essa interacção nos pode condicionar a forma como nos vemos em determinados aspectos.

Passei assim a dirigir uma palavra diferente ou piropo apenas às pessoas menos bonitas, às menos magras, às mais inseguras e às especiais, mesmo tratando-se de totais desconhecidas para mim. E sempre recebi delas um enorme sorriso. Eu sei o porquê.

Por coincidência, passei há uns anos por uma experiência determinante no sentido de perceber se esta minha atitude era válida para terceiros apenas, ou se se aplicaria também às futuras pessoas do meu próprio sangue.

Na altura, a médica que me acompanhou informou-me sobre o sindrome de Down, dos riscos reais que existiam e aconselhou-me a pensar nas possíveis acções a tomar a curto prazo.

Não tive dúvidas nenhumas. Não precisei sequer de tempo para pensar. A minha atitude estava cimentada no mais profundo de mim: na minha alma.

Quis aquela criança mais do que tudo e já imaginava até as alegrias que uma criança especial nos concede a nós, adultos.

E aos mais cépticos deixo aqui uma mensagem muito clara: sei do que falo por tudo o que passei e que, por mero acaso e apenas por isso, teve como corolário o nascimento de uma criança perfeitamente "normal", se normal fôr entendido como "não especial".

Aprendi ao longo da vida a admirar as Mães e Pais que aceitaram estas crianças (que as quiseram mesmo) e aprendi a olhar para elas (para as crianças) da única forma que me parece justa.

São crianças por natureza felizes, meigas, atentas, inteligentes no nosso mundo e fieis aos sentimentos.

Nasceram puras como todos nós, mas não se perdem na ganância, no egoísmo e na mentira do mundo dos adultos.

Nascem crianças, mas não passam a vida adulta a querer retornar à sua origem de criança, ou seja, a viver uma vida no Aqui e Agora, pura no sentimento e verdadeira na intenção.

Para elas não há retorno para ambicionar porque vivem em permanente estado de graça.

E por isso as amo, lhes dedico amor e atenção, tento aprender com elas e as considero Especiais.

Sim, porque há mesmo crianças especiais.

sábado, junho 23, 2007

(Poema) Por Fim

O sonho acabou
que mais posso agora dizer?
é que percebi hoje por fim
que esta estrada onde estavam os meus pés
não tem mais caminho para mim.

O meu farol apagou
por onde me vou agora guiar?
é que percebi hoje por fim
que apesar de não saber para onde ir
aquela luz já não me guia a mim.

O meu amparo faltou
a quem me vou agora segurar?
é que percebi hoje por fim
que mesmo querendo uma base para me suster
aquela mão já não está lá mais para mim.

O sonho acabou,
o farol apagou,
e o amparo faltou.
Que mais posso agora fazer?
é que percebi hoje por fim
que esta vida já não é mais para mim.

quinta-feira, junho 21, 2007

(História) Uma Estrela no Céu

Numa terra distante, existente num mundo paralelo ao nosso, vivia um pequeno menino.

Seu corpo habitava a cidade cosmopolita, mas sua alma continuava ligada ao mundo paralelo onde nasceu.

O menino era um menino diferente. Diziam-no todas as pessoas que com ele partilhavam vida no mundo terreno.

Tinha herdado de seu Pai, naquela terra distante, caraterísticas que outros teimavam em chamar de raras e muitas vezes de únicas.

Hoje era dono de uma sensibilidade fora do comum, orientada para os sentidos: para a visão, para o olfacto, para o tacto e para a audição.

Possuía também o dom da palavra, consequência do ser espiritual e intelectual em que se tornara e efeito do legado deixado pelo seu Pai.

Era um ser altruísta: vivia grande parte do tempo para outros, orientando o seu esforço sempre em benefício de terceiros.

Todos o consideravam uma pessoa justa e imparcial e por isso o procuravam de forma constante para ouvir a sua opinião.

Distinguia bem os positivos efeitos imediatístas de uma decisão errada, dos seguros efeitos no longo prazo de todas as decisões acertadas e por este motivo o classificavam como visionário.

Previligiava os diálogos, as actividades músicais, o desporto, a literatura e as artes.

Mas parte da sua vida mundana era passada de acordo com as conformidades e necessidades instituídas pela sociedade que vigorava.

Usava a predominância espiritual e intelectual para colocar magia em todos os campos mais físicos da sua vida. Não imaginava uma qualquer actividade física sem que a mesma fosse controlada pela parte espiritual.

Para ele, a parte física era a parte visível da sua espiritualidade e intelectualidade e como tal um seu reflexo.

Mas nesse seu outro mundo, era um menino muito só. Apesar de querido, admirado e cobiçado no universo feminino, a barreira entre os dois mundos sempre pareceu inviolável.

O menino foi crescendo e em mais de quarenta relações nunca encontrou alguém que conseguisse transpôr aquela barreira, entre o mundo que era apenas dele e o mundo dos mortais.

Aos poucos, foi percebendo então que não estava escrito no seu destino o encontro com a sua verdadeira Princesa.

À imagem do Pai, a sua vida tinha sido resgatada por alguém superior para que pudesse servir um propósito maior: viver em benefício de terceiros.

E assim, tal como o destino tinha traçado, aquele menino, agora Homem, passou a orientar a sua imensa luz na direcção de todos os que o rodeavam, procurando guiá-los na descoberta da alegria, da paz, da tranquilidade e do amor.

Ganhou o menino, agora Homem, e ganhou o mundo mais uma estrela no céu.