domingo, junho 24, 2007

(Dissertação) Crianças Especiais

Há mesmo crianças especiais. Crianças que por um qualquer acaso na gestação, nasceram diferentes de todas as outras.

Curiosamente, sempre estive muito próximo delas. Porque convivi aqui ou ali em pequeno com algumas e porque precisamente nessa altura a educação e intervenção dos meus Pais foi essêncial e determinante na forma como passei a olhá-las.

Nunca desde esse momento as vi como detentoras de algum handicap em relação às outras, mas apenas como diferentes num aspecto concreto, como aliás todos nós, ditos "normais", somos diferentes aqui ou ali dos demais.

Durante todas as etapas do meu crescimento até chegar à idade adulta, a forma de as olhar foi ganhando novas dimensões, tornando-se hoje muito mais globalizadora, encerrando por isso no seu âmbito um conjunto muito mais vasto de meninos e meninas especiais.

E a minha atitude perante estas pessoas passou a assentar numa maior atenção, carinho e cuidado.

Devemos lembrar sempre que alguns dos factores que determinam a nossa auto-estima estão relacionados com os inputs do mundo exterior, ou seja, com a forma como o mundo que nos rodeia interage connosco, uma vez que essa interacção nos pode condicionar a forma como nos vemos em determinados aspectos.

Passei assim a dirigir uma palavra diferente ou piropo apenas às pessoas menos bonitas, às menos magras, às mais inseguras e às especiais, mesmo tratando-se de totais desconhecidas para mim. E sempre recebi delas um enorme sorriso. Eu sei o porquê.

Por coincidência, passei há uns anos por uma experiência determinante no sentido de perceber se esta minha atitude era válida para terceiros apenas, ou se se aplicaria também às futuras pessoas do meu próprio sangue.

Na altura, a médica que me acompanhou informou-me sobre o sindrome de Down, dos riscos reais que existiam e aconselhou-me a pensar nas possíveis acções a tomar a curto prazo.

Não tive dúvidas nenhumas. Não precisei sequer de tempo para pensar. A minha atitude estava cimentada no mais profundo de mim: na minha alma.

Quis aquela criança mais do que tudo e já imaginava até as alegrias que uma criança especial nos concede a nós, adultos.

E aos mais cépticos deixo aqui uma mensagem muito clara: sei do que falo por tudo o que passei e que, por mero acaso e apenas por isso, teve como corolário o nascimento de uma criança perfeitamente "normal", se normal fôr entendido como "não especial".

Aprendi ao longo da vida a admirar as Mães e Pais que aceitaram estas crianças (que as quiseram mesmo) e aprendi a olhar para elas (para as crianças) da única forma que me parece justa.

São crianças por natureza felizes, meigas, atentas, inteligentes no nosso mundo e fieis aos sentimentos.

Nasceram puras como todos nós, mas não se perdem na ganância, no egoísmo e na mentira do mundo dos adultos.

Nascem crianças, mas não passam a vida adulta a querer retornar à sua origem de criança, ou seja, a viver uma vida no Aqui e Agora, pura no sentimento e verdadeira na intenção.

Para elas não há retorno para ambicionar porque vivem em permanente estado de graça.

E por isso as amo, lhes dedico amor e atenção, tento aprender com elas e as considero Especiais.

Sim, porque há mesmo crianças especiais.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tenho o privilégio de trabalhar todos os dias com crianças "especiais" que como todas as outras, gostam de carinho e de atenção. E com aquele dom único que todas as crianças têm, enchem-nos o coração com um sorriso...

angi disse...

Eu também trabalho com alunos do Ensino Especial... Alunos com uma incapacidade e não deficientes como antes eram designados. Este ano, tive a sorte de trabalhar com 2 alunos com Trissomia 21. Adorei a experiência...sorria imenso com eles pois cada dia era uma aventura para mim e para eles!Já sei que tu "J" vives isso e concordo e afirmo são especiais que sentem e demonstram a nossa falta relativamente aos "normais".

cibis disse...

Tenho um filho com necessidades especiais,foi meu primeiro filho tive com 15 anos e sou muito feliz pois aprendi,aprendo e cada vez mais procuro a entendê-lo pois amo muito ele e minha outra filha que nao é "especial" e meu marido que por sua vez não é o pai do meu filho mas o tenho como se fosse EU POSSO SEMPRE DISSER QUE SO UMA MULHER FELIZ SOMENTE POR ELE EXISTIR!!!!!!!!