domingo, dezembro 19, 2004

(Dissertação) O Prazer de Comunicar

Foi sempre essencial ao ser humano comunicar com o seu semelhante. No entanto, em tempos longínquos, comunicar era uma arte limitada a alguns sons, gestos, expressões e desenhos.

Na sua essência, a arte de comunicar já detinha tudo o que necessitava para evoluir - usava a voz, os movimentos faciais e corporais e também a imaginação.

Com o aproximar de várias civilizações pela utilização de meios de locomoção que permitiram as cruzadas e outras viagens de exploração, poder comunicar tornou-se imprescindível ao ser humano.

Nos dias de hoje, a globalização trouxe o penúltimo desafio ao Homem - comunicar numa única língua, sendo que o último desafio para a Humanidade talvez seja o de um dia comunicar com outras civilizações, não pertencentes ao nosso mundo.

Mas comunicar, para além de aproximar civilizações, assume também um papel preponderante a outro nível - o pessoal, nomeadamente no estabelecimento de relações, no fortalecimento de laços afectivos e na expressão das nossas necessidades sentimentais.

E, para isso, não basta poder comunicar, é necessário saber fazê-lo, é necessário saber comunicar.

Apesar de todos nós vivermos rodeados por outras pessoas, não é raro encontrarmos pessoas que vivem isoladas em si mesmas, numa completa solidão. São pessoas incapazes de exprimir de forma correcta as suas vontades, sentimentos, alegrias, medos e frustações.

Podemos dividi-las em dois tipos:

As primeiras, apesar de comunicarem frequentemente, experimentam várias dificuldades na fidelização de relações e na criação de laços afectivos fortes.

Mesmo não tendo dificuldades de expressão oral, apresentam um outro tipo de dificuldades, normalmente de ordem afectiva e psicológica.

São pessoas inseguras, indecisas e com pouco amor próprio.

Provavelmente sofreram, durante algum período de suas vidas, repressões de vária ordem, perdendo aos poucos confiança em si mesmas.

Muitas delas são pessoas extremamente válidas, mas com barreiras internas que muitas vezes impedem o estabelecimento de uma relação afectiva normal.

Necessitam de se libertar, mas para isso terão de dar o primeiro passo - aprender a saber comunicar.

As segundas, têm dificuldades na expressão oral e, como tal, pressupõem que não têm o poder da comunicação.

Aclaremos então um ponto, o ponto principal:

Uma óptima expressão oral não é pré-requisito para saber comunicar - normalmente, saber comunicar tem relação directa com tempos, escolhas e atitudes.

Quer isto dizer que, para sabermos comunicar, temos de saber em que alturas devemos falar, em que alturas devemos fazer e em que alturas não devemos nem falar, nem fazer.

Implica também perceber que a palavra complementa apenas a acção, nunca a substituindo, pelo que o acto de fazer vale muito mais do que simplesmente falar (de que adianta dizermos várias vezes que amamos determinada pessoa quando as nossas acções são de desrespeito, afronta ou indiferença?).

E falar não implica a utilização de frases complexas, mas antes a utilização de diálogos claros, francos e directos.

Em suma, a arte de bem comunicar pressupõe que saibamos quando agir em vez de falar, quando falar em vez de agir (de forma transparente e verdadeira) e quando não falar e não agir.

Não há relação sentimental que resulte em pleno quando não se sabe comunicar. A Amizade, a Honestidade e a Cumplicidade necessitam do tipo de comunicação de que falei.

E estas três, juntas com o Amor e o Tempo são a base da Relação Feliz.

Não há como fugir, e comunicar pode dar um enorme prazer, vamos todos experimentar?

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