domingo, outubro 10, 2004

(Infantil) O Espantalho

Nos campos da vila vivia um espantalho, cravado no alto de um pau, para afugentar todos os pássaros das colheitas que ali cresciam.

O espantalho tinha-se tornado num ser triste e solitário, pois nunca tinha a companhia de ninguém; nem a dos pássaros, incumbido estava de os afastar.

Cansado e muito só, virou-se para o céu e disse: “Ai Jesus, se eu pudesse pedir um desejo, um único que fosse, pedia para ser livre durante um dia!”.

Ao imaginar como seria não ter aquele pau a segurar o seu corpo de palha e poder correr pelos campos, ir até à vila, conviver e brincar, desatou num choro de anos que hoje já não conseguia conter.

De repente, notou que no céu se formava uma grande luz, tão forte que aquele início de manhã se parecia tornar numa linda tarde.

E a luz falou para ele: “Espantalho!... Espantalho!...”.

O espantalho estava agora cheio de medo.

“Quem fala para mim?” disse, olhando de forma fixa para aquela luz.

“Sou eu, Jesus. Ouvi a tua prece e decidi conceder-te esse teu desejo.”.

O espantalho tremia de medo mas também de alegria... “Meu Deus, Jesus! Porque olhaste Tu para mim?”, perguntou.

“Porque te senti demasiado só. E acho que és um espantalho de bem”, disse Jesus.

Ao dizer estas palavras, Jesus fez desaparecer o pau que sustentava o espantalho e ele pôde colocar os seus pés de palha no chão.

“Vai espantalho, diverte-te neste dia que tanto pediste aos céus. Espero-te no final da tarde.”.

“Obrigado! Obrigado!”, disse o espantalho, ajoelhado perante a luz, entre lágrimas e sorrisos.

E desatou a correr! Primeiro pelos campos que fizeram dele prisioneiro e depois em direcção à vila.

Quando lá chegou, todos os habitantes se espantaram com a sua presença e aproximaram-se para saber o que se tinha passado.

O espantalho contou a sua história e logo depois foi brincar com os meninos e meninas junto da fonte da praça.

E brincou, molhou-se, tomou banho com outros meninos e meninas, foi almoçar com os homens e mulheres, falou, falou, e também ouviu a tarde toda, as histórias que faziam a alma daquela vila.

Todos gostaram imenso do espantalho, e ofereceram-lhe um belo lanche. No final, quando os seus novos amiguinhos o convidaram para brincar novamente, o semblante do espantalho mudou e a tristeza tomou conta do seu rosto.

“Não posso, tenho de me ir embora. Prometi a Jesus que lá estaria no final da tarde e não me quero atrasar.”.

“Fica!”, disseram alguns dos homens da vila. “Se ele te soltou, às tantas é para que não tenhas de voltar mais! Fica connosco!”.

Mas o espantalho virou costas e, de lágrimas nos olhos, foi embora. Chegado ao campo e vendo o pau que durante tantos anos o segurou, disse: “Jesus! Estou aqui!”.

A luz apareceu novamente e perguntou: “Então, gostaste deste teu dia de liberdade?”.

“Sim, gostei muito...”, disse o espantalho.

“Então porque voltaste?”, perguntou Jesus.

“Porque o tinha combinado contigo.”, rematou o espantalho.

“Num dia, fiz tudo o que em toda a minha vida nunca tive hipóteses de fazer, e apesar de me custar muito voltar a ser um simples espantalho cravado num pau, quero agradecer-Te por teres atendido o meu pedido e me teres deixado provar a liberdade. O dia que me deste porque foi desejo meu já passou e assim, como ficou combinado, aqui estou.”.

“Sabes,”, disse Jesus, “fico contente que saibas o quanto importante é cumprir as nossas promessas e também sei o quanto custou teres de vir embora... toda a gente gostou de ti – eu disse-te que eras um espantalho de bem.”.

O espantalho ouvia as palavras de Jesus, tendo o pau na mão, aquele que o iria mais uma vez segurar pela vida fora.

E Jesus continuou: “Tenho uma outra surpresa para ti. Larga o pau, nunca mais vais necessitar dele porque a partir de hoje és um espantalho livre. A tua liberdade foi ganha por ti, porque soubeste cumprir o prometido.”.

E o espantalho, louco de alegria, beijou demoradamente a luz e saiu a correr, para não mais voltar.

E na vila fez-se festa, com música, comida e foguetes, e ninguém dormiu, até de manhã.

Conclusão:

Cumpre sempre a tua palavra; ela é parte do teu carácter. E mesmo que um dia te custe cumprir, lembra-te que o que acontece de bom no futuro pode estar a depender dela.

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