sábado, outubro 02, 2004

(Dissertação) Sucesso de uma Licenciatura

Os três pontos que posso considerar como vitais para o sucesso de uma licenciatura são a importância do professor para o aluno, a importância do esforço do aluno no atingir desse mesmo sucesso e a importância da licenciatura para uma pessoa.


Triângulo do Sucesso

Como se pode traduzir então o Sucesso de uma Licenciatura? Vamos abordar a questão pelas partes identificadas e no final chegaremos a uma conclusão.

O professor tem um papel central no nosso sucesso?

Estou certo que entre as pessoas que leêm este texto, encontramos alunos que se puderam classificar de bons, médios, fracos ou maus.

Pessoalmente, não acredito num mundo de carácter exclusivamente económico, onde as palavras de ordem são "procurar a rentabilidade máxima", porque ele implica de forma automática, a exclusão dos mais fracos e a dificuldade de inserção dos menos bons.

É aceitável, e até desejável, que no final de uma linha de produção se separe o produto defeituoso do que está em perfeitas condições de comercialização, mas neste caso, estamos a falar de produtos, não de pessoas e, como produtos que são, não têm forma de se auto-melhorar, ao contrário das pessoas, que podem sempre aprender, evoluir e melhorar.

Acredito numa política de carácter social, que misture os bons com os médios e com os fracos, porque estes dois últimos podem sempre melhorar e, para melhorar, necessitam por vezes de orientação, de ajuda e de apoio.

No entanto, não pactuo com a preguiça - é para mim condição vital que os bons, os médios e os mais fracos tenham em comum o esforço e a dedicação.

Então, coloca-se a questão: "Como melhorar o aluno médio e o aluno fraco?"

A resposta é "através do empenho do professor".

O professor tem uma missão extremamente complexa que não deve ser reduzida muitas vezes ao tradicional "ensinar para os bons". Todo o professor tem como missão "ensinar para todos, fazendo crescer os médios e recuperando os fracos".

E como é possível recuperar os fracos?

- Dando confiança e motivação
- Ensinando a usar método
- Obtendo o máximo de esforço

Eu era um aluno mediano quando cheguei à Universidade e acabei o curso considerado como um dos melhores. Inteligência? Tenho alguma, mas conheci lá pessoas verdadeiramente inteligentes. No entanto, para além das boas notas em todas as cadeiras do curso, eu tinha sempre as melhores notas nos trabalhos práticos porque o meu esforço era dez vezes superior ao deles.

Tive lá professores que me deram muita confiança e obtiveram de mim o máximo esforço.

Sei que isto é possível porque aconteceu comigo, mudando para sempre a minha vida e, nos anos seguintes a ter terminado o curso, mudei a vida de vários explicandos usando a mesma técnica.

Porque é tão importante o esforço no sucesso de uma licenciatura?

Porque nos dá agilidade de pensamento, porque nos dá um método, resistência e confiança.

Há pessoas que nascem talhadas para certos desportos - têm um jeito natural e uma compleição física própria - mas não raras vezes, o melhor é aquele que mais tempo dedica ao treino. O esforço faz a diferença.

a) Agilidade de pensamento e resistência

- Os músculos ficam ágeis e resistentes quando estimulados periodicamente por exercícios - o cérebro também.

b) Método

- Quando por vezes se executa determinada tarefa com carácter esporádico, nem sempre o caminho usado é o melhor; frequentemente leva mais tempo.

- Mas quando é executada frequentemente, temos tendência para nos interrogarmos sobre qual a forma mais eficaz de a realizar. E isso leva-nos a ter método, a procurá-lo.

c) Confiança

- A confiança é consequência da agilidade mental que se começa a obter e do método que nos permite realizar tarefas com êxito e de uma forma mais rápida.

Esforço não significa necessariamente dedicação total com prejuízo de outras actividades, mas sim um investimento periódico e regular na construção de algo.

Quem investe uma hora por dia a pintar as paredes da sua casa, provavelmente em duas semanas tem o trabalho pronto. Por outro lado, quem espera pela altura de ter dois dias inteiros livres para a pintar, provavelmente ainda não iniciou o trabalho quando o primeiro já o terminou.

Quem investe uma hora por dia a aprender algo, no final de um ano realizou mais de 45 dias de oito horas a trabalhar; no final de quatro anos, realizou 182 dias de trabalho ao que corresponde 2/3 de um ano profissional.

Podemos então assumir que quem investe um pouco todos os dias a mais do que os outros, vai obter uma grande diferença em termos de conhecimento no final de um ano.

O que nos dá então uma licenciatura?

- Mais método
- Mais capacidade de esforço
- Mais resistência
- Mais agilidade mental
- Mais confiança
- Bases para aquilo que vamos fazer durante a nossa vida
- Alarga horizontes ao abrir várias portas ao nosso conhecimento

No mercado actual das tecnologias de informação, a evolução das ferramentas é tão rápida que ainda hoje duvido que uma licenciatura nos dê mais do que as bases.

Por isso, alguns nomes sonantes do nosso mercado empresarial, defendem que os cursos deveriam ter uma duração de apenas três anos (por se encontrarem por vezes tão desfasados nas ferramentas usadas), para que o ciclo de apredizagem no mercado de trabalho se iniciasse mais cedo.

Mas este é um exemplo de uma política puramente económica.

O tempo de crescimento e aprendizagem numa Universidade, se bem que mais lento, é essêncial para criar uma base sólida de confiança e de resistência, sem sujeitar o indivíduo às pressões exteriores.

Por alguma razão a sociedade ocidental proibiu o trabalho infantil (tudo tem de ter o seu espaço para atingir a maturidade).

Não se iludam: cá fora praticamente não existe política social, mas quase sempre económica.

Quando a sociedade perceber que pode recuperar grande parte dos indivíduos, então começará a seleccionar as pessoas apenas pelas suas características pessoais, muitas vezes em detrimento das competências profissionais.

Aos 25 ou 27 anos, um profissional mediano pode vir a tornar-se num excelente profissional (conheço muitos casos), mas raramente uma pessoa arrogante, mesquinha e egoísta se recupera.

São os valores sociais que têm raízes bem mais fortes do que as aptidões profissionais.

Então, já sabemos o que é e do que depende o sucesso de qualquer licenciatura.

E por último, como conclusão:

O que é então o sucesso no mercado profissional?

Profissionalmente, a nossa vida pode ser comparada a uma longa maratona:

- Os atletas devem ter um tempo de preparação, a que correspondem os nossos anos de estudo (e vejam a importância que a preparação tem);

- Depois correm a maratona, e isto corresponde ao conjunto de anos que iremos passar a trabalhar;

- E por fim, cortam a meta e descansam, e isto deve corresponder à nossa reforma.

Digam-me: Se numa prova de 45 Kms, um atleta começa desde logo a sprintar e aos 2 Kms tiver já uma grande vantagem sobre os outros, devemos considerar que ele é bom e que provavelmente irá ganhar?

Será que ele vai aguentar a prova toda? Provavelmente não, talvez seja apenas um inconsciente.

Quero com isto dizer que ninguém tem sucesso aos 30 ou 40 anos; o sucesso da nossa vida profissional vai ser quantificado apenas quando a corrida terminar, ou seja, na reforma de um profissional.

Até lá, ainda podemos chegar em primeiro.

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