sexta-feira, setembro 17, 2004

(História) O Príncipe e a Princesa

Ela, que não era Princesa, conheceu alguns Eles, que não eram Príncipes, porque Ela, a que não era Princesa, nunca acreditou com o coração merecer conhecer um.

Para Ela, que não era Princesa, bastava alguém que dela gostasse, porque isso já era algo de especial.

E Ela, que não era Princesa, nem era pessoa má.

A história reza assim:

Ela, que não era Princesa, tinha acabado de sofrer mais um desgosto. Entre parcas lágrimas e muito pensar, disse mais uma vez a si mesma:

“... não era possível que desse certo... não somos iguais... somos diferentes, temos formas distintas de ver certas coisas e tempos de reacção muito díspares.”

E continuou:

“É, desisto. Vou para a minha concha.”
(será que quando começou já tinha desistido?)

Entretanto, um outro Ele, que também não era Príncipe, reparou naquela linda concha, suficientemente transparente para que se percebesse que dentro dela vivia uma Ela.

Uma Ela, que não era Princesa, mas também não era pessoa má (só que o Ele de nada sabia...).

- “Toc, toc”, bateu o Ele na concha.
- “Quem é?”, responde a Ela.
- “Quero conhecer-te!”, diz o Ele, em êxtase.
- “Gostas de mim?”, pergunta Ela, “É que se gostares, só por isso eu já gosto de ti!”, continuou.

E, ainda não satisfeita, Ela, que não era Princesa, e também não era pessoa má, decidiu esclarecer melhor aquele Ele que lhe bateu na concha:

- “Olha, só porque gostas de mim, eu já gosto de ti, mas por isso mesmo, não me interessa muito saber do que necessitas.”

E o seu monólogo não ficou por aqui:

- “Agora, se perceberes bem o que eu necessito, e, se por gostares de mim, me fizeres todas as vontades, aí, e porque gostas de mim, eu também gostarei de ti.”
- “Percebes?”
- “Sabes, eu não tenho muito jeito para me colocar no teu lugar, porque isso me obriga a não pensar em mim. Sou mais do género de sentir, (isso faço-o muito bem), e por isso sei direito o que quero para mim.”
- “E, se mo deres, é porque gostas de mim, e se gostas de mim, eu também gostarei de ti.”
- “Assim, porque sou a tua Princesa, tu serás o meu Príncipe.”

O Ele foi embora. Foi embora para nunca mais voltar, e, para Ela, esta história começou novamente no seu início.

2 comentários:

Utopia disse...

Engraçado como esta história foi escrita há um ano atrás e se parece tanto com a minha!
Por incrivel que pareça deve ser também a de muitas outras mulheres deste planeta!
Gostei da história da sua simplicidade.
Parabéns

Anónimo disse...

É, quando se olha para o umbigo não se vê o céu... e quem dá só para receber? Está muito bem apanhada esta tua historia, independentemente dos contextos em que tenha sido escrita.