quinta-feira, novembro 29, 2007

(História) Pedras Perdidas

Num mundo de águas e areias vivam duas pequenas pedras do mar. Uma, muito branca e redonda, habitava as profundezas do oceano. A outra, preta e de formato mais oval, fazia a sua vida no constante quebrar das ondas, onde o sal mais se fazia sentir.

Tanto uma como a outra, necessitavam da água para viver pois eram ambas simples pedras do mar. Existiam já há centenas de anos e nunca tinham conhecido outro local para além daquele que habitavam. Sonhavam um dia conhecer o resto do mundo e com isso encontrar uma ajuda para atingirem os respectivos objectivos de vida.

Tinham objectivos idênticos na essência, mas opostos no resultado. Sonhavam um dia poder alterar a sua cor - a branca para uma cor mais forte e escurecida, e a preta para uma cor mais aberta, mais suave.

Sofriam também de um mal comum: da enorme tristeza de viverem sós, da carência, da falta de companhia e de apoio, das palavras reconfortantes e de um amor inexistente. Sofriam ambas da solidão.

Mas um dia as suas vidas comecariam a mudar. Anunciavam agora, por todos os reinos do oceano, que estava para chegar a Fada dos Desejos e com ela, a dádiva de oferecer a cada habitante um desejo escolhido por eles.

No entanto, esse desejo não poderia ser escolhido função de um qualquer interesse oportunista, mas sim função de um sonho presente na vida de cada um.

Quando chegou a vez de cada uma das pedras, ambas pediram para mudar a sua cor, de acordo com o sonho que tinham. Era de facto um desejo antigo, mas o pedido não foi aceite desta forma. A Fada deu-lhes antes a capacidade de se moverem na água para que finalmente pudessem procurar aquilo que lhes faltava. E, ao dar-lhes essa capacidade, fez por elas muito mais do que na altura ambas poderiam imaginar. Haveriam um dia de alterar a sua cor e ao mesmo tempo acabar de vez com a solidão.

Depois do encontro com a Fada dos Desejos, puderam finalmente por-se a caminho da descoberta dos outros mundos. Uma saindo das profundezas do oceano e outra mergulhando um pouco mais no mesmo.

No curso dos caminhos inversos que ambas faziam, chegou o momento em que se cruzaram... estavam agora estupefactas a olhar para a cor que cada uma tinha, pois no fundo, era parte da cor que ambas queriam para misturar.

Percebiam agora que estavam perante um complemento das suas necessidades e, ao mesmo tempo, perante a supressão das carências de ambas.

Assim, as pedras, antes perdidas, encontraram-se finalmente para se fundirem numa só, maior, mais sólida, e para o resto da eternidade.

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