sábado, dezembro 08, 2007

(Pensamento) Rotina Ideal

A rotina de um amor pode trazer-nos uma sensação de paz, protecção e tranquilidade únicas. Chamo a isto a estabilidade madura de uma relação.

2 comentários:

Anónimo disse...

E a rotina desse mesmo amor pode também trazer desalento, desinteresse, desassossego. Jamais compararia rotina a estabilidade numa relação. Muito pelo contrário. Parece-me que a estabilidade da mesma se constrói quebrando a rotina, combatendo a acomodação, surpreendendo o parceiro, provocando sorrisos...
Rotina é sinónimo de morno. Quem quer viver uma vida morna? Deixo-lhe um poema que muito me apraz e, se bem que o seu conteúdo possa parecer um pouco utópico, não deixa de, na sua globalidade, encerrar uma imensa verdade.
QUASE
Luís Fernando Veríssimo

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no Outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planeando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

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Poderia também enviar-lhe o poema de Neruda, "Muere Lentamente". O conteúdo é similar.
Note que, este meu comentário não é uma crítica àquilo que escreveu. É uma mera opinião pessoal que apenas pretende traduzir o meu discordar.

Beijo,
Hino

Anónimo disse...

Entendo o que pretende dizer e concordo que para se ter uma vida serena em termos emocionais, esta tem que assentar sobre uma base de amor mas... para que este amor exista e perdure, parece-me, que um dos principais ingredientes é, para além de muito diálogo, a imaginação que quebra a rotina do dia-a-dia, é a perspectiva de um fim de semana diferente, é a flor que do nada surge pousada no prato na hora de jantar, é não jantar às 20H30 porque se fez uma caminhada na praia ao entardecer, é jantar no chão da sala de prato no regaço, é uma luta de almofadas e soltar gargalhadas, é, essencialmente, não deixar morrer a criança em nós.
Percebo o significado que pretende dar a essa palavra "rotina" mas... é mais forte que eu, "rotina" é uma palavra que me incomoda!