segunda-feira, outubro 22, 2007

(História) O Nosso Jardim

Passei novamente no nosso jardim. Naquele, onde namoramos uma única vez. Apesar de bem no centro da cidade, e de estar rodeado por centenas de viaturas em movimento, lá no meio, tudo se dissipa, e parece que acabámos de entrar num outro mundo.

Aqueles passeios de terra, aqueles canteiros, aquelas árvores, aquela relva e até os cheiros presentes, fazem-me recuar dezenas de anos e recordar uma época onde tudo acontecia bem mais devagar.

Aqui ou ali, ganho coragem e vou parando lá. Sento-me no mesmo banco onde namorámos, mas desta vez sem a tua companhia, sem a tua mão. E naquele pedaço de tempo recordo todos os nossos sonhos e todas as nossas batalhas, aquelas que nos fizeram chegar tão longe.

Apesar de hoje me fazeres tanta falta, o meu sonho contigo continua intacto. Mais claro e mais lúcido ainda. Talvez porque foi o único verdadeiro sonho que tive em toda a minha vida. Sabes que sou resistente aos maus momentos e que também sou muito persistente. E por isso eles não me largam. Porque os autorizo a viver dentro de mim, todos os dias, por um pouco.

Ali me recordo de ti, do teu rosto, do teu sorriso, do teu cabelo, das tuas mãos, da tua voz, da tua paz, do teu encanto, da tua delicadeza e da tua fragilidade. Ali me recordo da força que retiravas de mim e de como dependias da minha alegria para viver.

Findo esse tempo, volto a colocar tudo muito direitinho, na mesma caixinha, com o amor que sempre te tive. Guardo lá todas as memórias, todas as alegrias, todas as dores e sonhos, todas as lutas, comemorações e todos os momentos de intimidade que vivemos juntos.

Posso depois transformar-me no homem áspero e triste que hoje sou. Carrego comigo todas as amarguras e tristezas de já não te ter, a ti e aos teus. Muda depois o meu semblante, e muda o peso que carrego comigo. Acentuam-se novamente as rugas e os meus olhos perdem o brilho que um dia te conquistou.

E assim vivo até à próxima vez em que, por coragem, capricho ou masoquismo, me atrevo a sentar no mesmo banco, como que a teu lado, com a mesma caixinha pousada nas pernas e me decido a abri-la, deixando que todas aquelas coisas bonitas me invadam novamente a alma. Nem que por momentos apenas...

Lembras-te do nosso jardim? Bem no centro da cidade, onde namoramos uma única vez?

1 comentário:

Anónimo disse...

Não deixes que seja só um sonho...deixa-te ser feliz, aceita defeitos, reconhece que amas e que precisas desse amor para te completares... Pelo menos não o deixes afastar-se sem tentares mais uma vez...quem sabe do lado de lá a noção da falta que lhe fazes a fará voltar disposta a tentar!
Eu por cá torço que fiques mais leve, tranquilo e que o brilho dos teus olhos possam voltar não como a excepção, mas como o hábito ;-)