quinta-feira, outubro 18, 2007

(Dissertação) Paragens da Vida

Temos por vezes e a espaços o desejo de parar toda a nossa vida...

Paramo-la para repensar o nosso Eu, a nossa vida profissional ou a nossa relação sentimental.

Paramo-la pelo cansaço, pela desilusão, pela confusão, pelo medo ou até por nos sentirmos momentaneamente perdidos.

E se essa paragem pode parecer benéfica, há riscos que convém não esquecer.

Se sempre nos assiste o direito de parar a nossa vida, assiste o direito à vida de não parar por nossa causa (porque ela não pára mesmo) e assiste ainda o direito a outros de não ver a sua vida parada por causa da nossa paragem.

Nestes hiatos causados pela paragem de algo e movimentação do restante, criam-se buracos e vazios de informação entre ambas as partes, responsáveis por um afastamento posterior devido à ausência de partilha.

Criam-se assim desconfianças, medos, interrogatórios difíceis de fazer e por vezes de respostas contrafeitas, criam-se distâncias, dores e dificuldades pelos caminhos seguidos pela parte em movimento, cujo orgulho raramente deixa passar em claro.

As paragens de uns são muitas vezes o cemitério dos restantes, porque para esses fica para sempre a incompreenção pela falta, pelo abandono e pela ausência.

E numa vida que se pretende feita de ajuda, de complementariedade e de comunhão entre as partes, uma paragem unilateral tem quase sempre um efeito letal.

Todos sabemos que a vida é movimento. E o movimento implica direcções, caminhos, avanços e recuos, acontecimentos, conhecimentos e decisões que mudam quase sempre o quadro inicial.

Há decisões amadurecidas, decisões por intuição e decisões impensadas.

Decidir parar é muitas vezes uma decisão corajosa e outras vezes uma decisão inconsciente. Porque antes de parar torna-se necessário perceber muito bem qual o impacto dessa paragem nos terceiros que se movem e qual o impacto do movimento de terceiros em quem vai decidir parar.

Invariavelmente, todos querem parar sem arriscar perder. Mas a perda estará sempre presente, no curto ou no médio prazo, porque a vida seguiu entretanto para ambos e por caminhos diferentes.

Há mesmo riscos que convém não esquecer.

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