quinta-feira, setembro 13, 2007

(História) Perdidos

Estávamos feitos um para o outro. Tínhamos trilhado vidas diferentes até que o destino nos juntou. Não mais nos largaríamos. Por maiores que fossem as dificuldades e toda a maldade que nos rodeava.

Procuravas abrigo debaixo da tenda protectora que havia construído propositadamente para ti. Colocavas-te bem atrás de mim e aproveitavas o conforto da mesma. Não sentias o frio, a chuva, nem tão pouco o medo de deambular sozinha.

Vias nela também o teu caminho, a luz que nos guiava aos dois por um mundo que queríamos novo. Muitas vezes me perguntei se achavas esta tenda realmente confortável... mas a paz e a alegria que via nos teus olhos respondiam-me sempre da mesma forma. Estavas feliz. Como nunca tinhas estado.

Tínhamos também um manto, um manto construído com todos os nossos sonhos, que usávamos para dar mais brilho à lua, mal a noite se instalava. Era ali que guardávamos os nossos segredos e que nos amávamos vezes sem conta. Todas as noites colocávamos mais qualquer coisa no nosso manto. Ele representava o nosso passado, o nosso presente e tudo o queríamos para o futuro.

Repousávamos sempre na torre do nosso castelo, sob as estrelas do céu. Era ali que riamos, que brincávamos e que nos prometíamos um ao outro, para todo o sempre. Aproveitávamos também todos os momentos para namorar de mãos dadas ao abrigo do luar, protegidos pela boa nova das estrelas.

Apesar de todas as provações, tínhamos uma vida plena, porquanto a mesma misturava a paz, a alegria, o amor, o respeito, o carinho, o orgulho, a admiração, a paixão e a vontade.

Mas um dia tudo mudou. E hoje olhas-me sem tenda. Hoje olhas-me sem manto. Hoje olhas-me sem castelo.

Hoje já não te guias a coberto da tenda, não sonhas no nosso manto e não namoras no nosso castelo.

Hoje sentes-me nu, à deriva num mundo atroz e evitas participar a meu lado deste final triste e perdido.

E acabamos assim mesmo, perdidos, num triste final.

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