sábado, fevereiro 09, 2008

(História) Um Acreditar

Amavam-se desde pequenos. Conheciam-se mutuamente tão bem, como se fossem um ser único. Partilhavam desde sempre os sonhos e as ilusões de um mundo que queriam perfeito e à medida do seu amor. Sabiam que ficariam juntos para todo o sempre.

Chamavam-se P e M. P tinha um porte magro, era moreno e a sua alma era visível através do olhar. M era uma menina calma, meiga. Tinha cabelos pretos e uma classe fora do comum. Toda ela era delicadeza e beleza singular.

Durante alguns anos tudo na vida lhes sorriu. O universo conspirava também para que aquele amor vingasse e se fortificasse a cada dia passado. P e M tinham sido feitos um para o outro. E sabiam-no.

Mas, de um dia para o outro, tudo se alterou. P passou por uma fase muito má. Perdeu parte da sua vida, e com ela, a sua auto-estima e a vontade de caminhar. A M viria a sofrer durante dois anos e meio as agruras de uma companhia sem alma e sem fogo.

O P perdeu-se num mundo agora estranho. Largou os sonhos e mergulhou nas dores da droga. Viu partir todos os seus amigos, pessoas que agora não se identificavam com a perdição em que se encontrava. Apontavam-lhe o dedo e, entre dentes, acusavam-no de ser um fraco. Não teve nem a companhia nem a ajuda de nenhum.

Esqueceu as referências da sua vida e continuou perdido num mundo diferente até que a sua própria família lhe virou também as costas. Tinham cedido à vergonha e baixado os braços. Era agora pessoa estranha.

No entanto, a M nunca o abandonou. Conhecia-o bem demais para saber que ele era muito mais do que aquele homem agora feito farrapo. Conhecia a sua essência e tinha partilhado com ele todos os sonhos e ilusões de uma vida. Estava decidida a reerguer aquela alma perdida.

Quando interpelada por amigos comuns que lhe aconselhavam a seguir o seu caminho longe de P, a M respondia sempre da mesma forma: "Conheço o P bem demais e um mau momento não faz uma essência. Sei quem ele é, sei o que vale e também sei que o meu lugar é ao lado de quem sempre acreditei. Enquanto este momento não passar, estarei a seu lado, de mão dada. No final, seguiremos o caminho que está escrito para nós".

M teve o seu quinhão de dor e de angústia. Durante dois anos e meio, manteve-se ao lado de P, contrariando com a sua forma de ser suave e meiga, todas as maleitas da perdição de P. Deu de si a alma e a beleza de um acreditar invejável. Nunca recebeu nada em troca.

Mas, no desespero de P, M via sempre a honestidade e a simplicidade do rapaz que a conquistou com a alma. M via mais longe. M viu mais longe do que todos os amigos e familiares de P. M via P, através dos seus olhos, exactamente como ele era.

Foi através de M que P recuperou. P não percebia como é que M ainda se mantinha ali, a seu lado. E a sua dor era ainda maior. Mas M recordava-lhe a todo o momento que estava ali, porque sempre soube quem ele era e que por isso mesmo acreditava nele. Aquele momento iria passar e M estaria lá, para continuar o caminho que ambos tinham sonhado. Dizia-lhe muitas vezes: "Não tenhas medo deste momento mau - ele vai passar. Uma fraqueza não faz de ti um homem fraco. No entretanto, tu nunca estarás sozinho, porque te espero, para te levar comigo".

P recuperou, com M a seu lado. P recuperou porque M acreditou. Seguiram juntos o caminho comum de ambos, casaram e tiveram quatro filhos lindos. Vivem agora o seu sonho de sempre: lado a lado.

Hoje o P define a M desta forma: "Ela é tão só o ar que respiro, o caminho pelo qual me guio e o anjo por quem rezo todas as noites, pois é a ela que devo toda uma vida. M é um acreditar".

2 comentários:

Anónimo disse...

e P um GRANDE HOMEM...

Anónimo disse...

Acreditar é ter fé... ainda bem que correu bem que nem sempre basta ter fé, nem dar-se...às vezes perdem-se todos! Grande mulher! Grande homem! Grande casal!